sábado, 11 de setembro de 2010

Soltando pipas


Não volta mais, aquele tempo antigo e seus costumes não retornam. Vamos sempre para diante. Penso isto lendo uma crônica de Roland Barthes (em espanhol) sobre os brinquedos e jogos infantis. Ele reflete sobre as bonecas, brinquedo antigo que ainda faz a alegria dos mais pequenos.
"Así, se puede preparar a la niñita para la causalidad doméstica, "condicionarla" para su futuro papel de madre. Sólo que, ante este universo de objetos fieles y complicados, el niño se constituye, apenas, en propietario, en usuario, jamás en creador; no inventa el mundo, lo utiliza. Se le prepara gestos sin aventura, sin asombro y sin alegría. Cualquier juego de construcción, mientras no sea demasiado refinado, implica un aprendizaje del mundo muy diferente: el niño no crea objetos significativos, le importa poco que tengan un nombre adulto; no ejerce un uso, sino una demiurgia: crea formas que andan, que dan vueltas, crea una vida, no una propiedad. Los objetos se conducen por sí mismos, ya no son una materia inerte en el hueco de la mano. De ordinario, el juguete es un juguete de imitación, quiere hacer niños usuarios, no niños creadores".
Há 60 anos eu conheci um verdadeiro brinquedo, era imitação da vida adulta do pai dos meus colegas. Um dia, ouvindo um vozerio alegre na casa vizinha, subi no muro e vi do outro lado uma pequeno lugarejo. Casas feitas de caixas de sapato com portas e janelas recortadas e, maravilha!, com bondes circulando nas ruas. O pai deles era motorneiro, motorista de bonde. Os bondes dos meninos eram tocos de madeira retangular conseguidos em uma carpintaria. Com arame fizeram o engate do reboque e a alavanca de ferro que puxava a energia do fio. Pedi para entrar na brincadeira e demos asas a imaginação. Barthes via esses jogos como condicionadores para a vida adulta, mas no meu ver são estimulantes para as tarefas sérias.
Nos bairros ainda se vê as crianças brincando ao ar livre fazendo subir e manobrar as pipas ou, a tardezinha, correndo no pique-esconde ou no pegabandeira; rodas de ciranda nunca mais vi. Mas, (pena?) os jogos de computador são a maneira moderna de brincar com a ilusão que formará adultos (mais espertos? não sei).

Nenhum comentário: