terça-feira, 28 de agosto de 2007


Absalão
Acabei de ler um livro, Absalão, Absalão, do escritor norte-americano William Faulkner (1897-1962). Quem conhece um bocado da Bíblia sabe da história de David e seu filho mais bonito, Absalão. É um velho drama que acompanha o ser humano, um ressentimento recôndito que cada homem tem por aquele que emprenhou a sua mãe e por meio dela transmitiu à outro humano suas características preservando sua imagem. Parente de outra tragédia que causa terríveis efeitos na sociedade, o pai que destrói a sua prole para salvar a sua vida, seus ideais e suas ambições.
O livro é difícil de ler porque o autor cria em torno do enredo um labirinto de acontecimentos que aparentemente só serve para explicar como o narrador ficou sabendo daquela história. Tirando este roupagem pesada surge uma história que se repete bem mais do que se pensa. Um garoto pobre, numa família grande, zanzando pelas ruas sem o que fazer se deparou com uma cena que o marcou pra toda a vida: um fazendeiro, sentado em sua varanda e servido por um negro de terno que tanto lhe trazia uma bebida gelada, quanto lhe abanava do calor e até tirava e colocava o seu sapato. Para um garoto que nunca tinha sorvido uma laranjada gelada e nem mesmo tinha um sapato pra calçar, ver alguém fazer essas pequenas necessidades para outro lhe botou na cabeça duas coisas: precisava ser dono de terras, de uma bela casa e de vários escravos; e tinha de se manter completamente distante da raça negra, não podia de modo algum misturar seu sangue com o deles. E como os adeptos do Segredo dizem hoje: seu desejo se tornou uma ordem para o Universo que cooperou para ele conseguir tudo o que queria, mesmo passando por cima de outros, da ética e das leis.
Então, tudo começou a conspirar contra ele: teve um filho com uma mulher que descobriu ser mulata, abandonou-a e ao filho; a mulher que escolheu para casar, só para ganhar um status na sociedade, foi sofrendo sem amor até a morte; e os filhos, um casal, acabaram se envolvendo com seu filho mulato que além de grande amigo do rapaz marcou casamento com a moça, sua meia irmã. E o homem, o David, que na história se chama Sutpen, decide jogar os filhos entregues a própria sorte para salvar seu sonho de ser um homem honrado, superior e que tinha empregados para lhe fazer a menor vontade. Acabou morto com uma machadada.
Mas no decorrer da narrativa Faulkner coloca pensamentos soberbos como esse sobre uma amizade: “Por isso não tinha a mínima importância qual dos dois estava falando, pois não era apenas a conversa que clareava tudo, que possibilitava a comunicação, mas um feliz casamento entre falar e ouvir, onde cada um, diante da necessidade, perdoava, tolerava e esquecia a falta do outro”. Ou defendendo a importância de levar o estudo até a universidade: “A cultura que o equipararia e poliria para a posição que ele queria alcançar na vida, como qualquer homem, ele poderia obter em qualquer lugar, até na sua biblioteca – se tivesse a vontade necessária -, mas há alguma coisa, uma certa qualidade na cultura que somente a vida monástica de uma universidade poderia lhe dar”. E o terrível pensamento que pode passar na cabeça de um filho que foi menosprezado pelo pai: “Como pôde ele ter permissão de morrer sem ter de admitir que estava errado e sofrer e se arrepender disso”.
Demorou a leitura deste livro grosso, mas me distraiu, ajudou a passar o tempo e vi certos aspectos da vida sobre um ângulo novo pra mim nos meus 63 anos.
Agora vou começar a ler cinco livros da autora Jean M Auel, romances sobre o homem primitivo, no Neolítico. Me amarro em ler sobre as dificuldades que os homens venceram naquela época.