Bate-nos, às vezes, uma tristeza, um desapontamento com a
vida. Aprendi que num momento desses, se olhamos para algo da natureza a
alegria invade de novo o coração. Pode ser apenas levantar os olhos e observar
uma nuvem na tela azul do céu, ou um bem-te-vi cantando num galho de uma
solitária árvore de rua.
O livro Brumas do Passado fala de um momento assim vivido
pela personagem (p. 118): “Tinha uma quantidade de ideias que não compreendia
bem. Então, às vezes, a verdade me aprecia em um lampejo que me assustava e surpreendia
ao mesmo tempo. Lembro-me de um dia em que voltava para casa ao cair da tarde.
A estrada passava por um trecho cheio de árvores e me peguei observando o sol
se insinuando entre os troncos escuros. Como iluminava um grupo de galhos
fazendo cintilar a resina que escorria da casca e dando um brilho de aço as
folhagens mais ao alto. Porém, conforme caminhava o sol parecia andar comigo deixando
a sombra envolver aquela árvore e iluminando outra. Num desses lampejos de
compreensão que temos muito raramente entendi no fundo do coração que é assim
que acontece com a humanidade toda. Percebi que é o que sucede quando uma
pessoa fica muito famosa ou rica. Não demora muito tempo e ela vai para o esquecimento
ou perde sua fortuna. Assim é a vida, os raios de sol ora aquecem um ora outro
e deixa este na sombra e amanhã aquele”.
Sendo assim, não vale a pena termos inveja de quem tem muito nem nos
orgulharmos quando chega nossa vez de possuir ou conquistar algo. Tudo acaba passando.