terça-feira, 28 de junho de 2016

DELAÇÃO PREMIADA – O CONTRA SENSO

Não é de agora que se aceita e usa esse atraiçoar relações de confiança. Em todos os momentos de crua decadência, de completa falta de ética, em uma sociedade voltada para o consumismo e cultura sem valor e dominada pela corrupção, a delação é premiada.
Acabei de ler o livro Eu, Claudius, o Imperador e quando ele descreve o governo de Tibério César, diz (p. 173): “Tibério fez decretar que se alguém fosse acusado como culpado de conspiração contra o Estado, seriam os seus bens confiscados e repartidos entre seus acusadores. Proliferou então uma classe de delatores profissionais, que podiam à vontade maquinar acusações. Assim, os verdadeiros dossiês criminais tornaram-se supérfluos”. Está vendo como os delatores levavam vantagens?
Outro tempo caótico foi o de Calígula. A amoralidade dominava todas as relações (p. 289): “Aqueles dias de folgança doidas acabaram por secar o Tesouro. Ele tinha agora, para arranjar dinheiro, meios muito engenhosos, por exemplo, reduzia famílias a escravidão à força de multas e confiscos, mandando cidadãos para combater contra gladiadores no anfiteatro. Mas um dia seu tesoureiro veio anunciar-lhe que não restava no Tesouro mais que um milho de peças de ouro [no início de seu governo havia 27 milhões]. Calígula decidiu que não valia a pena fazer economia, era preciso aumentar a receita. Começou a negociar cargos e monopólios e admitiu que delatores acusassem cidadãos ricos de crimes reais ou imaginários, a fim de confiscar-lhes os bens”. 


Temos de escapar desta crise de imoral vaidade que agride as famílias. Parece tão difícil uma volta à ética e a razão

domingo, 12 de junho de 2016

OUTRA CARTA DE RUI BARBOSA

Meses antes do impeachment era comum ver pessoas falando sobre a necessidade da volta dos militares ao poder para nos vermos livres do PT. Essa troca de um mal pelo outro foi comentada há muito tempo por Rui Barbosa.
Estou lendo A Primeira República e nele encontrei à p. 47: “Considerei toda esta noite no assunto que ontem de tarde me vieram submeter, oferecer ao ilustre Marechal Hermes da Fonseca a Presidência da República. Supor que uma crise política desta natureza, puramente doméstica, não se possa resolver senão com o nome do chefe do Exército, seria fazer uma grave injustiça à condição de nosso regime, à índole dos nossos costumes e aos sentimentos do nosso povo. Já lá vão 14 anos de existência da República, a aclamação da candidatura do Ministro da Guerra seria, a meu ver, um retrocesso. Por que regressarmos ao governo militar? Não descubro motivo para nos resignarmos à solução que amigos nossos reputam inevitável”.
Rui Barbosa foi contra a volta dos militares ao poder.
Mas então ele lança um desejo, que também é nosso: “Precisamos de um nome político verdadeiramente popular, realmente nacional, de um nome sério, digno, benquisto que reuniria todos os elementos dissidentes. Teríamos então, pela primeira vez, o espetáculo do povo brasileiro concorrendo efetivamente às urnas, para sufragar nosso primeiro magistrado”. Rio, 19 de maio de 1909.
Onde está este homem íntegro e ilibado?


Faz-me lembrar o que enfatizou o papa João Paulo II em uma de suas visitas ao Brasil: Os brasileiros devem buscar seriamente a santificação.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

DEU NO JORNAL

“A nossa honra de povo livre, os nossos brios de povo independente e nossa própria conservação reclamam, de nós, nesta hora de suprema privações e ignomínias, toda energia e todos os sacrifícios. A terra gloriosa de nossos avós, nossa amada Pátria, outrora invejada pelo estrangeiro como uma das mais felizes do mundo, está transformada em lodaçal. Vede como a perversidade de homens sem patriotismo, sem obediência moral e afeitos ao crime, desfigurou a nossa grandeza, desbaratou a nossa riqueza, na orgia infernal que nos deprime e avilta.
Contemplai a miserável situação em que nos achamos. Fora do país, de bárbaros é a nossa fama. O Governo Brasileiro foi proclamado o mais corrupto da Terra! A União atrasa pagamentos e os Estados já não podem pagar o funcionalismo público e fecham escolas porque o dinheiro do imposto escasseia, enquanto a ganância dos larápios aumenta desmedidamente numa fúria diabólica”
- Isso é que coisa de O Globo, Zéadal.


Este editorial está transcrito no livro A Primeira República, de Edgard Carone, e foi publicado no jornal Correio da Manhã, em 25/08/1902.
Ô País sem jeito, minha gente!