sábado, 8 de novembro de 2008

Violência em casa


Dei sorte com meus filhos. Não sei mas acredito que esta felicidade foi ajudada por uma boa dose de afeição e preocupação (amor) por eles. Fiz coisas erradas que não chegaram aos ouvidos de meus pais e sempre pensei que meus filhos também estavam armando fora das minhas vistas. Porém, se qualquer deles começasse um padrão de comportamento de transgressão eu precisava estar completamente desligado deles para não sentir ou perceber, e intervir. Assim, quando ouvisse um filho homem falar de conquistar qualquer garota não poderia deixar isto passar em branco. Precisava sentar e conversar. Aquilo que os pais falavam no meu tempo de rapaz ainda vale hoje: Precisa lembrar que assim como você quer que respeitem tua irmã também precisa tratar com correção a filha de outro homem. As coisas mudaram muito. Talvez a garota nem tenha um pai em casa e pode ter uma cabeça liberal que lhe permita usar as carícias do rapaz. Mas uma adolescente, assim como meu filho, ainda não tem bem claro na mente os limites, o que pode prejudicar seu futuro e o da outra pessoa. Então precisam de orientação. E mesmo nesta vida corrida a gente como pai precisa encontrar este tempo.
Disse tudo isto a propósito das palavras da socióloga Eva Blay: “Ódio e vingança. Os homens se preparam para dominar e matar as mulheres”. A violência contra mulher acontece em 29% dos lares nas cidades, na zona rural está em 37%. Em cada três casas, uma não é um lar, é um poço de ódio, um criadouro de seres humanos descontrolados e violentos. Quem quer criar para o mundo um indivíduo que será conhecido como um mau pai, um péssimo marido e um sujeito que vai tornar o mundo um pouco pior? Então, mesmo depois que ele deixa a casa paterna ainda precisamos estar de olhos e ouvidos abertos para saber o que os filhos e genros estão fazendo. A Dra. Eva diz: “Dificilmente o homem vai matar de cara. Ele ofende, xinga, quebra o prato de comida. Depois vai bater para não deixar marca. E isto vai piorando”. Os filhos casados ainda são responsabilidade nossa. Se eles se tornam maus não educamos direito. Educar não é só chamar atenção e muito menos brigar ou bater. Conversar (ouvir e falar) é bom, compartilhar emoções (é o que a maioria dos marginais da vida correta mais sentem necessidade) é melhor e dar o exemplo é o grande lance. Um filho nosso precisa ter uma cabeça boa. Eva avisa que o homem violento em casa não tem uma correta visão da vida: “Na cabeça deste homem ele está educando a mulher dele”, na base da porrada. Um cara que não queria que fosse meu filho, disse na delegacia da Mulher: “Quando ela estava grávida do meu filho, também bati mas não na barriga [que sujeito bonzinho!]. Bati nela grávida dos dois, mas, na barriga, só quando estava grávida da menina”. O que fazer num caso destes? Alguma coisa tem de ser feita pelo pai se não somos tão pirados quanto ele. Eva ensina: “A violência conjugal é uma relação entre dois sujeitos e temos de entendê-los”. Quer dizer ajudá-los a se entenderem, primeiro consigo mesmo.
Da mesma forma com nossas filhas. Precisamos prepará-las para jamais aceitar o desrespeito. O conselho de Cristo de dar a outra face não é de forma alguma para continuar num mesmo vínculo que foi quebrado quando o desajustado levantou a mão para ela. De forma alguma ela pode deixar a casa dos pais pensando em viver com um homem para tentar consertá-lo. E se forçar a saída de casa para tentar ter uma vida melhor que com os pais, então fizemos nossa obrigação toda errada. A socióloga diz: “A violência no lar é uma questão emocional. Porque não é uma negociação de troca, é uma negociação de poder. No caso de Eloá [aquele seqüestro que abalou o país], Lindemberg só queria uma coisa: que ela se submetesse a ele”. E o cara não teve um pai que se apercebesse disto e o ajudasse.