terça-feira, 6 de abril de 2010

TOME CUIDADO A VIDA NÃO ACABA FÁCIL


É perigoso infringir as leis e um risco terrível para a existência física maltratar a natureza. Ferir ou matar um ser imortal como nós, então, é fatal. Pior, atrai um sofrimento dolorosamente demorado.
Veja estes trechos do livro de Rubens Saraceni:
"Eu, às vezes, acordava com pesadelos horríveis. Eram lembranças amargas. Figuras vingativas se aproximavam de mim e tentavam me matar, isso durante o sono. Acordava transpirando muito e com o coração disparado. Isto foi se tornando rotineiro. Todas as noites eram pesadelos horríveis. Tinha medo de dormir e definhava a olhos vistos. Minha esposa começou a se preocupar com minha saúde.
_ Você tem que procurar um médico para ver o que é."
Um mal pisicológico danifica o corpo, mas este penar carnal não é nada. Veja o que revela o livro O Guardião da Meia-Noite mais a frente: "Não tinha mais noção do tempo. Sabia que estava trancado no quarto há muitos dias. Não sabia se era dia ou noite e nem conseguia me mover na cama. Sentia dores em todo o corpo. Lentamente uma lassidão foi me envolvendo. Acordei com pancadas na porta e com gritos que me mandavam abri-la.
_ Senhor, abra esta porta, por favor.
Ouvi também a voz de minha esposa pedindo-me que fosse abrir a porta. Animei-me com sua presença. Tentei me levantar, mas não consegui me mover. Estava paralisado pela fraqueza.
_ Vamos derrubar a porta _ falou alguém.
Por fim a porta foi derrubada. Vi meu sogro e minha esposa com alguns empregados. Quando entraram no quarto, taparam as narinas.
_ Meu Deus, ele está morto há dias _ falou ela.
_ Não estou morto querida. Ajude-me a me levantar, ainda posso caminhar, só estou muito fraco.
Ela olhava em meus olhos. Ainda falou:
_ É uma pena não ter se confessado antes de morrer...
Ela virou as costas e saiu do quarto. Eu gritava seu nome. Não era possível que ela fosse tão cruel a ponto de não me ajudar agora. Algum tempo depois, controlei-me afinal, era um direito dela não me ajudar. Eu a havia feito sofrer tanto e injustamente. Quando já estava conformado com a situação, levei outro susto. Dois homens com lenços no rosto entraram com um caixão tosco no quarto.
Tiraram a tampa e um comentou com o outro:
_ Quem diria, hem? Morrer desta forma.
_ Sim, deve ter sido horrível não?
_ É, morrer assim abandonado deve ser a pior das mortes.
_ Porque será que ninguém o ajudou?
_ Ouvi dizer que ele se trancou no quarto.
Comecei a xingá-los de todos os nomes chulos que conhecia, mas eles nem prestavam atenção em mim. Quando olharam novamente para mim foi para me segurar, um pelos braços e outro pelas pernas e enfiar-me no caixão.
_Não façam isto! _ gritei desesperado_ Cuidado, pois meus ossos doem muito.
De nada adiantaram meus gritos, fui jogado sem piedade no caixão. Puseram a tampa sobre ele e começaram a pregá-la. Continuei gritando, mas não ligavam para meus gritos. Logo, senti que era arrastado para fora do quarto. No mínimo iriam sumir comigo porque eu não podia reagir devido à fraqueza que se apossara do meu corpo. O caixão comigo dentro foi colocado no chão e comecei a ouvir o som do solo sendo escavado.
_ O que vão fazer comigo? Vamos, canalhas, digam o que pretendem!
Faziam-se de surdos, pois não respondiam às minhas indagações. Logo o barulho cessou e o caixão foi colocado no buraco, isto eu percebi claramente. Apesar de fraco, tinha todos os sentidos alertas.
Que horror! Começaram a cobri-lo com terra. Gritava por socorro e ninguém me ouvia. Já não conseguia orar a Deus. Sentia minha carne sendo devorada por vermes. Que horror! Eu os sentia andando por minha pele. Aquilo era algo que eu não havia imaginado. Sim, eu estava isolado em um caixão. Os vermes iriam me deixar igual a um cadáver, todo carcomido. As dores foram aumentando de intensidade. Mas o pior ainda estava para vir. Comecei a ouvir barulhos de algo roendo o caixão. O que seria? Ratos! Só podiam ser ratos! Sim, eles deviam ter cavado um buraco sobre o caixão. Eu me apavorei com a idéia.
_ Meu Deus!_ gritei eu _ Acuda-me !!!
Mas de nada adiantou meu pedido de socorro. Ninguém me ouvia, nem Deus. Senti caírem sobre minhas feridas, farelos de madeira apodrecida. Estavam quase furando o caixão, logo entrariam em seu interior. E isto aconteceu. Foi um horror!
Eles estavam famintos e eram muitos. Lançaram sobre mim com uma fúria indescritível. Eram dezenas deles. Sentia minhas carnes sendo arrancadas pelos dentes afiados. Aquilo era o inferno! Se ele realmente existia eu estava vivendo os seus horrores. Clamava a Deus que me matasse de uma vez. Não sabia como ainda estava vivo. Clamei e não fui ouvido. Desisti de clamar por Deus e pelos santos. Para que, se não era ouvido? Uma revolta intensa tomou conta de mim. A dor insuportável não era menor que o ódio. Odiava minha esposa, a tudo eu odiava. Maldita humanidade que permitia tal sofrimento a um ser humano".
Você vai dizer: "É ficção, já vi isto em filme. Depois da morte acabou!"
Certo, você pode pensar o que quiser, mas como dizia minha mãe: Prudência e canja de galinha não faz mal a ninguém. Eu, vou vigiar ainda mais os meus passos.

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