sábado, 10 de abril de 2010

Acrescente qualidades à vida.


Pense no tempo como um filme de cinema, cada momento um quadrinho. Mas veja, você, a um segundo atrás, era outro e este que és agora ainda é você. Como? O musicólogo francês Vladimir Jankélévitch (1903-1985) tenta nos dizer:
"Pois a situação concreta, aquilo que de real é efetivamente dado ao sujeito, é a vivência na temporalidade, na sucessão dos instantes que introduz no Eu algo como uma instabilidade constitutiva. Esta sucessão de instantes não se resolve na pura cronologia, isto é, ela não pode ser considerada como uma seqüência homogênea. Os instantes diferem qualitativamente e são vividos sempre no limite da diferença que mantêm entre si. Portanto, quando falamos do ser do sujeito, do si-mesmo é a esta diferença que estamos nos referindo. O repouso num estado permanente contraria esta variação que é o dado mais imediato de nossa vida".
Falou, falou e não respondeu: como?
"Como a temporalidade é fluxo qualitativo, a passagem de um a outro é sempre um salto. Não o percebemos no cotidiano, mas eventualmente nos damos conta disto nas crises morais, nas decisões, nos impulsos, ou seja, nas situações que requerem de nossa personalidade um empenho mais completo".
Bem, então o Eu em cada instante é o Eu anterior acrescido de algum dado histórico, que pode ser quase nada ou uma baita mudança.
"O mérito não é portanto forçosamente uma perfeição acumulável e como que um plasma substancial ou um lustro na superfície da pessoa. O mérito não se conserva, mas se recria com esforço a cada minuto do devir. Além do mérito farisaico, há portanto espaço para uma relatividade intensiva do movimento benevolente que faz prever a ordem do Tudo ou Nada, a escolha graciosa entre sim e não, existência e inexistência - a ipseidade, para dizer tudo".
Então Jankélévitch nos dá o seguinte conselho: "A intuição não é só um novo modo de conhecimento, mas um novo modo de ser e de união essencial com os outros seres. Ela traz respostas às perguntas feitas pela vida".
Então, enquanto nos movemos em cada quadro, cada instante da vida, se ficamos atentos aos sinais a nossa volta como chamadas a mudanças, estaremos sempre nos renovando, sendo outro em nós mesmos. Quer melhor uso do livre arbítrio!?

Nenhum comentário: