sábado, 27 de março de 2010

Vivendo a Vida que nos foi dada


A novela Viver a Vida discute as formas que cada criatura humana lida com sua sorte ou sua missão. Não tem outro jeito, temos de viver a vida que nos foi dada, é nosso fardo, só nosso. O pior é quando nos defrontarmos com o carma decidimos enfrentá-lo segundo antigos costumes, com pré-conceitos. Então não estaremos vivendo a nossa vida, abrindo caminhos novos para um mesmo drama, mas seguindo velhas trilhas, costumes, fórmulas já testadas.
Pior quando nosso infortúnio acontece em um momento de crise em toda sociedade, quando muitos estão padecendo.
É isto que estou lendo na vida e obra de Pieter Brueghel (1524-1596). Era época das descobertas marítimas, o ouro e o açúcar das Américas e os temperos do Oriente faziam a Europa renascer, mas a maioria dos europeus vivia suas tristes sinas amarrados a conceitos retrógrados e velhas atitudes. Então, Brueghel, o velho, retrata aquela época em quadros onde as vidas, os problemas de cada um, se misturam em um modo caótico de viver a vida.
Esta ilustração é um detalhe do quadro A Luta entre Carnaval e Quaresma (1559). Brueghel pintava multidões ao ar livre. Se olhar bem vai ver gente fantasiada, uma mulher fazendo bolinhos para vender e aleijados, cada um cuidando de sua vida. Viver como foi aquinhoado. Era assim e sempre será. Mas não é preciso enfrentar nosso drama como outros em igual situação, precisamos inventar outra atitude frente ao infortúnio.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Quanto mais leio, menos sei.


Como pode ser assim? José Castello, colunista do O Globo, explica (ou complica): "Em vez de nos tornar mais sábios, a leitura nos dá a dimensão de nossa ignorância". Sabe, é assim mesmo. Se não lesse jamais teria sabido do judeu Walter Benjamin, quem ele foi, o que disse e sua importância para mim.
Castello lê vários livros por semana e diz: "Quantos livros não li! Quantos jamais lerei! A visão do que me escapa me massacra".
Não precisamos chegar a tanto, basta começar um livro. Se não lhe interessar deixe-o de lado e pegue outro. O livro deve nos parecer com alguém que fala bem e que temos prazer em ouvir. Teime, leia outro. Então acontecerá encontrar um assunto ao qual vais querer entender melhor e isto te fará buscar outro livro.
Então viverás outra experiência, a de surfar na leitura. As palavras que eram sozinhas juntam-se mais e tornam-se idéias e visões. Neste ponto ao abrirmos um livro ele se transforma num tapete mágico. O leitor neste estágio nem percebe que seus olhos estão juntando silabas, pois as frases virarão vídeos e música.
Pronto aí ninguém te segura mais, és um leitor, um sonhador.

terça-feira, 16 de março de 2010

O Salmo 23 pode ser perigoso


As palavras do Salmo 23 são um poderoso mantra: "O Senhor é o meu pastor e nada me faltará".
Porém, o poder positivo de um som, ou sons agrupados, ganha um efeito contrário se não for usado corretamente.
Um homem profundamente ferido ou uma mulher ultrajada, proferindo essas palavras: "Ele me faz repousar em pastos verdejantes"; ganha força e coragem para prosseguir sua luta, sua vida. Estes sofredores são os mesmos a quem o mestre Jesus se referiu:"Eu não vim buscar os sãos, mas os doentes".
Mas - e isto é importante - se o tal homem, ou mulher, for na verdade um sujeito cheio de si, um salvo ou escolhido, quando recita para si mesmo este poderoso mantra: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo"; para este indivíduo que se arrisca em uma falcatrua financeira, que prejudica seu próximo num negócio, ou como político se corrompe para ganhar um dinheiro que devia ser usado em benefício dos desvalidos, estas palavras santas não curam, não refrigeram e nem consolam. O orgulho faz o poder do mantra ganhar um impulso para a malignidade e o tal se sente intocável, no fundo (mesmo renegando o termo) crê ter o "o corpo fechado".
Na criatura de Deus prepotente as palavras: "Preparas-me uma mesa na presença de meus adversário", não tem o mesmo efeito que no desvalido. Este ganha confiança de que mesmo sendo traído e espoliado, não ficará na penúria, pois o Pai vai criar condições dele ter um banquete. Aquele sente que quem se opõe as safadezas que planeja e faz, seus adversários, serão impedidos pelo Pai de lhe colocar a mão e que, portanto, pode continuar seus crimes até o ponto que dirá de "barriga cheia": "o meu cálice transborda".
Então, se você está feliz do jeito que é, não recite o Salmo 23, ele é para os aflitos, em ti estas palavras o arrastarão para ainda mais longe da luz; de onde a volta é sempre mais difícil.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ser humilde não é ser frouxo


Os pensadores sempre insistiram em procurar o que é bom para o homem, esta espécie de ser vivente tão especial. Em sua obra, Cidade de Deus, santo Agostinho começa falando de uma especial qualidade (está em espanhol mas é facil compreender e vai-se treinado outro idioma).
"Il Rey, Fundador y Legislador de la Ciudad de que pretendemos hablar es, pues, Aquel mismo que la Escritura indicó con los señales más evidentes 'que Dios se opone a los soberbios, pero que al mismo tiempo concede su gracia a los humildes'".
Ah, a humildade! Quantas vezes pensamos que ela é uma fraqueza que não nos podemos permitir. E tocamos a insultar quem nos ofende no trânsito. Agora veja só o que diz o homem santo:
"Pero este particular don, que es propio y peculiar de Dios, también el pretende al inflado espíritu del hombre soberbio y envanecido, 'perdona a los humildes y rendidos y sujeta a los soberbios'".
Sempre quando rezo (e é tão pouco, uma soberba minha com certeza) e digo: Nosso Pai no céu, não consigo deixar de pensar que Ele é demasiadamente grande, e fez do nada, da não matéria, todo este universo de 13 bilhões de anos-luz de extensão. E este magnífico poderoso tem como dom ou qualidade própria a humildade.
Então, deixar passar a "fechada" do motorista da frente sem buzinar ou xingar, dizendo: deixa ele ir, vai com Deus; não pode ser uma mariquice da gente. E até podemos dizer como Ele: eu sou o que sou, ou como disse Obama, esse é o cara. Com toda modéstia.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Talvez você diga que sou um sonhador


Augusto Cury é psiquiatra e um escritor razoável.
Como é que posso falar isso de um sujeito que já vendeu 7 milhões de livros? É que O Vendedor de Sonhos repete o que já se sabe. Vende tanto porque fala do que as pessoas estão pensando agora. "Peço-lhes que ampliem os horizontes da mente para respeitar e exaltar sua condição de seres humanos. Meu maior sonho é formar uma rede de humanos sem fronteira em todas as nações".
Lembra? John Lenon cantou isto mesmo.
"Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz.
Talvez você diga que sou um sonhador, mas não sou o único"
É sempre importante ter alguém repetindo com outras palavras o que o mestre Jesus disse: "Meu reino não é deste mundo" e "Amai-vos como eu vos amei". É simples assim e não acrescente nenhum, mas...
Então, o personagem de Cury cita três princípios: "temos o compromisso vital de defender a espécie humana e o meio ambiente, apoiar toda forma de inclusão (lembra Francisco de Assis? 'onde houver discórdia que eu leve a paz') e respeitar e apoiar o diferente".
Será que ainda não está no momento de se viver assim?
Me lembro de um trecho do livro de santo Agostinho, Cisdade de Deus. O sumo sacerdote da religião pagã romana, Volusiano, tendo fugido para Cartago quando Roma foi saqueada por Alarico culpou os ensinamentos do mestre galileu, que se espalharam pelo império, como responsável pelo sucedido (está em espanhol): "de ninguna manera convienen al Estado la predicación y la doctrina cristiana, porque ensina como no devolver a nadie mal por mal, presentar la otra face a quien te abofetea en la derecha, dejar también el manto a quien quiere litigar contigo para arrebatar la túnica y caminar dos millas con quien te ha contratado para una. Tais ensinos son nefastos para la conducta del Estado, y se oponen al bien de la República. Si el enemigo arrebata una provincia del Imperio, ¿habrá que renunciar a reconquistarla
con las armas? Si han sobrevenido tales desventuras al Estado, es evidente que la culpa la tienen, los emperadores cristianos por observar la religión de Cristo".
Como diz no livro de Cury: "Os líderes, políticos e empresários, pensando como bons humanos solucionariam em um mês dois terços dos problemas da humanidade".
- Ah, isto eu já sabia!
Então faça e fale para os outros. Eu vou.

Será que nunca a aprenderão?

Deus me permitiu ter, e me esforço bastante para consegui-los, muitos amigos.
Porém, me empenho mais ainda para ter Sabedoria. Não é fácil adquiri-la. Já em Provérbios (1:20-22), na Bíblia, diz: “Escutem! A Sabedoria está gritando nas ruas e nas praças: Gente louca! Até quando terão prazer em zombar da Sabedoria? Será que nunca a aprenderão?”
Lendo Solilóquios, de Aurelius Agostinho, me deparei com uma importante relação: amigos e Sabedoria. Neste livreto o mestre dialoga consigo mesmo. Vou te mostrar um pedaço:
“- Agora me diz; por que queres que permaneçam contigo teus amigos?
- Para buscar através do companheirismo desinteressado o conhecimento de Deus e da alma. Juntos, aquele que chegasse primeiro à verdade anunciá-la-ia aos outros.
- E se teus amigos não quiserem dedicar-se a esta busca?
- Eu lhes darei razões para procurar a Sabedoria.
- E se eles não puderem buscá-la, talvez porque imaginem já a conhecerem, ou por acharem ser impossível encontrá-la ou por terem outras preocupação e necessidade?
- Então aproveitarei da convivência deles da melhor forma possível.
- E se com sua presença eles te desviarem da busca da Verdade preferirás ficar com eles?
- Certamente que não!
- Logo, estás querendo a companhia deles como um meio de alcançar a Sabedoria.
- Penso que sim.
- E se tiveres certeza de que teu modo de vida é um obstáculo ao alcance da Verdade, vais querer prolongá-lo?
- Absolutamente, procurarei com todas as forças abandonar os maus hábitos”.
Quer um discurso mais claro? E voltando aos Provérbios (4:7): “Para ter Sabedoria é preciso primeiro pagar o seu preço. Use tudo o que você tem para conseguir a compreensão”.
Na foto levando reciclados para a APAE

Procurando a cura

Ainda o Dr. Jung:
"Por trás de tudo o que fazemos está uma filosofia geral; uma dessas, ainda bem viva, é a religião. Talvez não saibas mas a cristandade está por trás de inumeráveis tabus. Não podemos evitar a força dos costumes, eles não podem ficar fora de nosso caminho, mesmo nos dias modernos. Naturalmente, nada vemos de histórico naquilo que fazemos, mas nossa linguagem está cheia das coisas mais extraordinárias das quais não estamos conscientes. Por exemplo, quando dizes, "eu estou sob o tratamento do Dr...", estás usando a palavra latina trahere, que significava puxar; o doutor está te puxando da morte através do buraco do renascimento, e quando ele te traz inteiro e são, dizes: "O doutor me trouxe de volta". Houve uma clínica pré-histórica na Cornualha, a Menanthole, que era uma enorme laje de pedra com um buraco através do qual os pais puxavam suas crianças, e supunha-se serem curadas pessoas doentes daquele modo. Eu mesmo passei pelo buraco. E na Alemanha, no século dezenove, tinham o costume de fazer um buraco na parede atrás da cama dum homem doente, quase a morte, e puxá-lo através dele para fora, para o jardim, para um renascimento. Não te iluda, somos dirigidos por comportamentos humanos que há muito foram esquecidos, não fazem parte de nosso consciente, mas estão bem vivos nas antigas memórias do inconsciente".
A pedra furada da foto fica no caminho de Barcelos (a região portuguesa do galinho da chuva) rota da peregrinação de Santiago de Compostela. Veja o blog do amigo português que não consegui descobrir o nome: http://refoista.blogspot.com/2007_09_01_archive.html