segunda-feira, 17 de maio de 2010

Falemos do inominável!


"Mudam os dogmas e é falaz o nosso saber, mas a natureza não se engana jamais: o seu passo é seguro e ela não o esconde. Tudo nela é completo e ela efetivamente é completa em tudo. A natureza tem o seu centro em cada ser animado: o animal encontrou com segurança o caminho para entrar na existência, como com segurança o encontrará para sair dela: nesse entretempo vive sem temor da morte e sem cuidados na consciência de ser a própria natureza e como ela imperecível".
Palavras de Schopenhauer, palavras da razão. Mas nós, os humanos, realização máxima da natureza não nos conformamos com a morte. É natural nosso antropocentrismo, cada qual se sente o centro da natureza. E tem uma razão, não nos deixar pensar no inominável.
"O homem, somente o homem, leva consigo a convicção abstrata da própria morte. Mas, coisa estranha!, tal convicção não o inquieta senão a intervalos, quando alguma circunstância lhe evoca à mente. No homem, portanto, como no animal que não pensa, reina permanentemente esta segurança, oriunda da consciência profunda de ser ele próprio a natureza e o mundo; o que impede que o sentimento duma morte inevitável e sempre iminente o torture de modo demasiado vivaz, enquanto lhe permite levar avante tranquilamente a vida, como se esta nunca tivesse que cessar; isto chega até mesmo a tal ponto, que se poderia afirmar que nenhum homem possui a convicção real e viva de que tem de morrer; sem o que não poderia subsistir uma diferença tão grande entre o seu estado habitual de espírito e o dum condenado à morte".
Um princípio dentre de cada um, como um giroscópio, nos mantêm na rota: este sou eu, este momento, este em que vivo.
"Cada um possui, a bem dizer, a certeza da morte in-abstrato e em teoria, mas cada um a põe de parte, como se costuma fazer com muitas verdades teóricas que não encontram aplicação prática, e não lhe dá nunca acesso na sua consciência vivente".
Este sou eu.

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