sábado, 29 de maio de 2010

Com erros e acertos se faz a vida


Assistindo o programa de entrevista de Roberto D'Ávila com a professora Cleonice Beradinelli, especialista em Luis de Camões e Fernando Pessoa, vejo-o perguntar-lhe: "Como a Sra. define o caráter português".
Lendo o livro 1808, de Laurentino Gomes, aprofundamos o entendimento do que acontecia em Portugal no século 18. "Dos 300 navios lusitanos que atracavam por ano no porto de Lisboa, um terço estava diretamente dedicado ao comércio com o Brasil". Sendo o Brasil sua principal fonte de renda, em 1736, um experiente assessor do rei sugeriu ao regente a mudança da corte para cá onde se formaria o Império do Ocidente. Outro, já no início do século 19, com Napoleão ameaçando levar o rei preso para Paris, lembrou: "Vossa Alteza Real tem um grande império no Brasil". Então é inexplicável que alguns anos depois, em 1822, Portugal tenha aceitado no grito a independência desta terra enorme e tão rica. Perder este quase continente e ficar com aquela "orelha de terra", nas palavras do primeiro assessor citado, não dá para se entender. A menos que se compreenda o jeito de ser dos portugueses e nosso também, herdeiros que somos deles.
Primeiro, Portugal não tinha infra-instrutora. Com vinte e poucos navios de guerra - "uma frota insignificante" - para cuidar de colônias na Ásia, na África e na América não tinha condições de cuidar do que era seu. Não se parece com o Brasil, este gigante adormecido?
O livro 1808 aponta outra coisa séria: "Só em Lisboa, cidade com 200 mil habitantes, havia 180 igrejas e monastérios... A vida pautava-se pelas missas, procissões e outras cerimônias religiosas". Esta maneira de encarar a vida - que o negro baiano Gilberto Gil cantou tão desafiadoramente na música que repete o tempo todo: "Deus dará, Deus dará" e contesta: "E se Deus não dar, como é que vai ficar, ô nega?" - deu no que deu: "Nos últimos dois séculos não produziu a Península um único homem superior, que se possa colocar ao lado dos grandes criadores da ciência moderna".
A falta de investimento em educação - não, lembrando o que disse um secretário de obras da prefeitura de Volta Redonda, a propósito de uma reunião sobre implantação de ciclovias: "Vamos fazer alguma coisa e esperar que a população use e exija mais" - ou o desinteresse do povo em reconhecer o valor dos anos de estudo, levou a uma estagnação pública. Diz o livro: "Quando há abundância de riquezas naturais a tendência é solapar o desenvolvimento sustentado.
Então, cuidado. Lembra a piada engraçada do português? Pois é, se bobearmos vamos achar muito sem graça a piada que fizerem com a gente, a piada do brasileiro.

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