quinta-feira, 10 de junho de 2010

Há Futuro para a Escrita?


Este é o título de um livro do filósofo Vilém Flusser (1920-1991), onde discute a comunicação pela web, uma sucessão de imagens desconectadas. Quando o livro foi lançado, 1983, a febre dos computadores pessoais nem havia começado, seu ensaio antecipou o mundo virtual.
Flusser nos ensina que a escrita de um livro se parece a confecção de um tapete. Primeiro o artesão compra a tela, uma rede de minúsculas tramas, escolhe e desenha um tema na urdidura, a tela, e começa a amarrar os fios formando o belo objeto. "A escrita é uma luta tenaz para organizar a língua para formar imagens. O escritor ordena as palavras e lhes dá direção".
Ele lembra que antes do ser humano ter a idéia de escrever ele já desenhava símbolos. Pinturas de um sol, um cavalo ou um homem não serviam para contar uma história, elas tinham em si mesmas um significado místico, mágico.
"O mundo contemporâneo ultrapassa a consciência histórica da escrita, entra num sistema mecânico e luminoso (as telas dos computadores) e retorna ao mito".
Ele não teve a experiência de entrar em uma lanhouse, uma caverna escura, onde pessoas mudam de páginas freneticamente, escrevem muito, mas pensam pouco (?).
"Quando abrimos um livro não é só os olhos correndo pelas letras, nós o 'editamos' com nossa imaginação e, para imaginar precisamos pausar e refletir. Toda leitura é meio asmática, cheia de paradas para tomar folego".
Gosto da internet, me amarro em escrever nos blogs, mas não me interesso pelas conversas rápidas tipo msn ou twitter. Porém, longe de mim condenar a moçada nas cavernas das lan. Porque não quero ser retrógrado e porque tenho minha própria experiência com novos formas de escritas.
Meu pai lia muitos livros e queria me ver seguindo os passos dele, mas comecei a chegar em casa com revistas em quadrinhos. Ele ameaçou, me pagou muitas advertências dizendo que com os quadrinhas só conseguiria ler o que tivesse ilustrações. Até que um dia se rendeu, era Natal e ele me deu um grande almanaque em que me amarrei. De todos os presentes que me deu só lembro desta grande história em quadrinhos e da bicicleta verde.
E foi assim que aprendi a amar a leitura, a urdidura cheia de imaginação e pensamentos que edificam. Quem sabe se a turma da lanhouse também não vai aprender a amar os livros!

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