sábado, 27 de novembro de 2010

Vi a alma fugindo pelos olhos daquele homem

Partindo numa Jornada
por Ray Bradbury

"Quando eu era muito criança, não tendo mais que uns doze anos de idade, um parque de diversões costumava aparecer na minha cidadezinha ao norte de Illinois todos os fins de semana em que se comemorava o Dia do Trabalho. Nesse parque de diversões se apresentava um ilusionista ambulante e antigo pastor presbiteriano destituído de suas funções sacerdotais (assim dizia ele), chamado Mr. Eléctrico. Em cada outono caminhávamos ao longo da orla do lago Michigan, atrás do parque, e discutíamos grandes filosofias (minhas) e pequenas (dele). Se vocês pensam que estou pilheriando, reflitam sobre como a capacidade de filosofar costumam minguar, em vez de crescer, com a passagem do tempo.
De qualquer forma, foi durante uma dessas caminhadas que Mr. Eléctrico me revelou que tínhamos nos conhecido antes, muitos anos antes de eu nascer. Uma coisa dessas sempre foi uma notícia e tanto para um garoto de doze anos de idade! Pensar que já se viveu uma ou duas vezes neste estranho mundo, e ouvir de um homem mais velho a narrativa de um encontro de almas muito além da capacidade da memória é delicioso.
Onde tínhamos nos conhecido? Em Argonne, França, durante a Primeira Grande Guerra. Eu morrera em seus braços, em meio ao combate. E ele tinha visto minha alma fugindo pelos olhos daquele homem, a mesma alma que com novas forças veio a ser chamada de Ray Bradbury num dia de verão, em fins de agosto de 1920.
Bem, é claro que eu considerava Mr. Eléctrico um tipo notável, e gostava tanto dele que batizei um personagem com seu nome em uma novela".
Este trecho em que um antigo pastor presbiteriano fala de reencarnação encontrei no livro Marte e a Mente Humana. Ray é escritor de ficção científica e autor de Crônicas Marcianas e como ele mesmo diz: não custa sonhar.

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