
Ele aprendeu com Alfred Reginald Radcliffe Brown (1881-1955) que : “É preciso tomar qualquer comunidade de tamanho conveniente e estudar o sistema estrutural da forma como se apresenta na região, isto é, a rede de relações que liga os habitantes entre si e com os povos de outras regiões”. Mas lidando com nossos índios ele percebeu que “o pensamento indígena tem uma estrutura incompleta, aberta ao outro, que precisa do outro para se completar”. Então abandona o estruturalismo e no livro O Cru e o Cozido ele lança a lei da reciprocidade: “O universal seria a obrigação de trocar, coisas materiais e simbólicas, um grupo com o outro grupo. Isto estaria na base da formação da sociedade humana” (O Globo, Prosa & Verso, 15/11/2008). Recentemente, no livro História do Lince (1991) ele faz uma síntese de tudo que disse antes focalizando o dualismo em perpétuo desequilíbrio. Ao invés de se fechar em dogmas, tabus e preconceitos o homem deve estar sempre disposto a aprender.
Ontem, aconteceu comigo um exemplo disto. Falando com um pretenso espírita, com fama de palestrante, sobre o natal, disse pra ele que Lévi-Strauss explicou no ensaio Os Tempos Modernos (1951) que “a árvore de natal é um desdobramento dos cultos às árvores nos tempos pré-históricos que se prolongou em várias tradições folclóricas”. Disse também que o filósofo aprendeu que o pensamento mitológico indígena não era linear, mas transformacional (isto perturbava sua compreensão racional) “transpondo fronteiras entre humanos e não-humanos, entre o mundo dos homens e dos espíritos e entre a casa e a floresta”. Segundo ele a árvore de natal nos lembra a imortalidade, a vida além da morte, não só porque esta planta sobrevivia ao inverno rigoroso dos países setentrionais, como as florestas nos falam de seres “não humanos”, fadas e duendes que nas terras meridionais são chamados de orixás. Esses elementaes não são somente forças da natureza, mas são também personalidades, seres. Então aquele homem racional que se diz espírita me respondeu cheio de empáfia: “Não acredito nisso!” Me levantei e saindo retruquei: “Assim é fácil. Diz-se, não acredito, e isto nos libera de investigar e aprender”.
Foi isto que Lévi-Strauss aprendeu com os índios brasileiros: “O índio, quando chega um outro (os portugueses ou franceses que chegavam ao Brasil) deixa gerar em sua mente um desequilíbrio (uma dúvida, uma inocente vontade de aprender, como uma criança) fazendo com que surja uma nova lacuna que se preenche e volta a esperar a chegada de outro para voltar a se desequilibrar e ganhar novas idéias”.
Esta vocação de estar aberto ao novo, tão comum na base da cultura de nossos índios, mesclou-se com os cultos africanos que aqui chegaram e com a religiosidade ritualista que os europeus trouxeram e deu neste “homem brasileiro” que Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro tentaram desvendar.
Em um de seus livros, Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho, Chico Xavier também falou desta contribuição que este caldeirão de idéias que é o Brasil tem dado aos estudiosos e ao mundo.