quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Saia de tua Prisão




Ernest Mach (1838-1916), austríaco, era filósofo e físico, mistura interessante. e foi autor do livro Contribuição à Análise das Sensações. Ele entendia que cada ser humano é um “prisioneiro existencial”, ele está algemado ao real e seu comportamento é dirigido pelo acaso e pelo arbítrio da vida. Seu pensamento era que cada um cria para si (outros entende que recebe um destino ou missão) ou se ajusta a uma gaiola. Sua mulher, pelo caráter que tem, seus filhos da mesma forma, e seu emprego o cercam e o obrigam a um modo de agir. Está engaiolado. Penso no exemplo de um de meus filhos: ele trabalha na Barra e passa todo dia na frente do mar, sua vontade era pegar onda com uma prancha, mas as obrigações não o permite.
Um escritor da mesma nacionalidade, Arthur Schnitzler, leitor das obras de Mach, disse que nessa prisão a maioria se conforma, mas outros, “um certo número de indivíduos acreditam que estão evoluindo, mas de todas as qualidades que imagina estar melhorando, só a vaidade coincide com isso”. Não, para este escritor de Crônica de uma Vida de Mulher, o ser humano está preso a uma existência de imobilidade. Neste livro, a personagem é uma mulher que viveu no período dramático da derrocada do império austro-húngaro e viu a família perder todos os bens e o pai enlouquecer. Ganha o mundo pensando estar se libertando daquela prisão e vive uma existência de amores frustrados e fracasso na vida profissional. Continua presa a uma vida sem alegrias.
Para o filósofo e o escritor cada humano está numa jangada ao sabor do oceano e mesmo cercado de incertezas a vida costuma ser segura. Mas com o correr do tempo as partes que formam sua jangada começam a se soltar: a morte leva pessoas queridas e abre fundos buracos nos sentimentos, se aposenta ou é dispensado do trabalho que sabe fazer e não encontra outro ou perde bens que o sustentam. Sem mais uma segurança ou prisão existencial o homem se desintegra.
Porém, na própria história que Schnitzler escreveu, sua personagem, Therese Fabiani, imprensada pelas circunstâncias ainda consegue lutar e abrir um caminho em sua vida. Esta é a lição: na se acomode. Mesmo a saúde se ressente do comodismo. Por isto uns camaradas que não dão o braço a torcer deixam a cama quentinha numa manhã fria e sobem em suas bikes e pedalam, pedalam, fugindo de alguma coisa ou procurando algo. Tem gente que acha que nossa jangada, a gaiola dourada da gente, é nossa bicicleta. Pois não quero ficar sem minha gaiola!

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