terça-feira, 7 de outubro de 2008

A Queda do Império Norte-americano


Não quero te enganar não, mas iniciar um século nunca foi uma tarefa muito fácil. Coisas pendentes dos cem anos anteriores começam a feder e ninguém aguenta mais. Mudanças começam a acontecer. Não é de hoje que os precavidos falavam dos perigos que cercam as altas finanças. “Seu” Gumercindo, meu pai, comerciante português ressabiado e bem informado, dizia que antes de meter nosso suado dinheiro em ações de empresas devia se aplicar na firma da gente: “Ações é para quem vive especulando com isto”. Agora todo mundo está falando na falta de moral e ética dos financistas e alguns começam a falar que o Mercado precisa ser mais vigiado pelo Estado e que o capitalismo selvagem devia ser extirpado do planeta. Alguma coisa vai acontecer.
Um cientista político na Alemanha, Herfried Münkler, autor do livro Impérios, a Lógica do Dominância Mundial, diz que está no fim a “dominância americana”. Mais um império começa a ruir. Ele compara com o que aconteceu ao findar o império alemão na década de 1920. O fim de um Estado imperialista “provoca inicialmente um vácuo perigoso de poder... Sem a crise que abalou a Europa entre 1929 e 1932, o regime nacional socialista, o nazismo, não teria sido possível”. Não somente ele, mas outros analistas falam do perigo da expansão dos extremistas. Quando o gato sai os ratos botam a cabeça pra fora do esconderijo.
O que deve começar a acontecer, segundo ele e amparado nos exemplos da história, é que a “arrogância” dos EUA vai diminuir: “Como um império o país podia se dar ao luxo de usar uma doutrina unilateralista. A guerra do Iraque e a posição norte-americana sobre o aquecimento global são dois exemplos de como Washington, em vez de acompanhar a decisão da maioria das nações preferiu ditar suas próprias normas. Se podemos falar em algum efeito positivo dessa crise, então ele seria a maior disposição dos EUA de cooperar com a comunidade internacional”. Mas o lado negativo é que sem um xerife internacional “países que lutam para construir armas atômicas, como o Irã, podem aproveitar o estado de fraqueza do Ocidente para uma surpresa. Nunca a situação mundial foi tão frágil”.
Tem outra coisa. O império, nos últimos anos, cresceu desmesuradamente não só por ter criado uma falsa impressão de riqueza, os financistas fazendo que um dólar real se multiplicasse em trinta pela invenção de uma porção de papéis sem respaldo, mas por vender sua moeda ao mundo todo. Herfried disse: “Enquanto os países do Terceiro Mundo entravam em dificuldade com o aumento da dívida externa, Washington financiava seu débito atraindo capital do mundo inteiro”. Veja nosso exemplo: o Brasil juntou U$200 bilhões como reserva contra uma crise de crédito. Essa grana toda foi parar lá. Foi uma coisa certa, o país está mais ou menos blindado. Mas se esta moeda começar a perder o valor, a ser desprezada pelo mundo que vai preterí-la pela moeda chinesa, por exemplo, quem vai querer comprar nossos dólares? Eles mesmo não terão como recomprar os trilhões espalhados pelo planeta. Houve tempo que todo o dinheiro norte-americano em circulação era lastreado por ouro. Hoje, as reservas deles não cobrem nem dez por cento do dólar que circula pelo mundo.
Resta uma coisa para os EUA despencarem de vez, o que sempre aconteceu nos impérios que caíram. As mentes brilhantes trocarem suas universidades, empresas e laboratórios por trabalho em outro país. Foi o que aconteceu com a Alemanha quando o nazismo tomou o poder. Os grandes cientistas debandaram para outros países, especialmente para os EUA, levando seu saber que se transformou em produtos com enorme valor agregado. E isto ainda não está dando pra se ver.

Em todo caso temos de ficar "ligados". Mantendo nossa canoa na direção certa, seguindo o fluxo bom do mundo. Falei canoa, mas devia ter falado "nossa bike". Afinal é andando em cima dela que vejo melhor o que está acontecendo em minha volta.

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