domingo, 8 de junho de 2008


O polonês Jerzy Slolimowski é um cineasta, mas não fez disso sua única atividade. Nos anos da década de 1960, quando a juventude do mundo inteiro se revoltou contra seus pais e a maneira que conduziam seu país, ele fez filmes de vanguarda condenando a União Soviética que estava acabando com a tradição e cultura de sua pátria.
Então, quando o cinema se tornou antiestético e passou a copiar Holywood ele largou seu trabalho e foi viver recolhido numa floresta do interior onde pintava paisagens em tons grisalhos e secos, a cor da Polônia.
Seu exílio auto-imposto foi uma decisão corajosa: “Não existem lugares por mais interioranos que sejam que as noites não sejam iluminadas pelas luzes da TV ou dos computadores ligados. Tudo isso passou a ser supérfluo para mim. Precisava do silêncio e da quietude para criar. No barulho não existe a ordem. Na tranqüilidade eu me permito fazer associações poéticas ao olhar uma imagem.”
Mas o prazer de gritar, “Ação!”, estava em seu coração e quando leu uma notícia sobre um vilarejo onde o homem apaixonado ficava espiando em devoção a mulher escolhida ele deixou seus pincéis e sua palheta e voltou a cidade convencendo um produtor a lhe dar dinheiro para filmar. Com pouco dinheiro criou um filme denso: “A chave para entender o visual de meu novo filme, Quatro Noites com Anna, está na contemplação. É preciso entender o tempo dos movimentos de câmera nesse exercício, diferente do que o cinema industrial faz. Como a história se passa na floresta meus personagens não precisam de telefones, televisores ou internet. Precisam de liberdade contra a opressão do frívolo.”

Se você é dos que gosta de filme de ação é bom nem procura-lo numa locadora porque deve ser um negócio muito paradão, escuro e introspectivo: “A pintura educou o meu olhar para dramaturgias pautadas pela cor. Quanto menos cor no quadro, mais brandas são as luzes de uma seqüência e mais fácil deixar transpirar sentimentos. A câmera tem de se mover com lentidão, percebendo e refletindo sobre o que está a sua frente. Escolhi como protagonista um homem que não é ator profissional e que teve um derrame. Isso limitava seus movimentos e era perfeito para tentar combater a velocidade anti-estética do cinema atual. Um homem de movimentos limitados me permitiria filmar suavemente.” Dá pra ver que filme cult, cabeça, é Quatro Noites com Anna. Mas tem uma coisa que gostaria de ver neste filme, “ele fala de uma forma diferente de amar: a observação do ser amado”.
Com certeza o ritmo cada vez mais louco do mundo precisa ser freado. Tem que ter um cara meio louco, podia ser eu ou você, falando, assumindo e criticando as doideiras que não enriquecem em nada a vida da gente. Os orientais buscam um coisa importante, a meditação, não para contemplar o outro mundo mas para nos fazer deixar de lado as preocupações e vaidades e nos concentrarmos em nosso crescimento humano.

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