quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Matando uma charada.

A segunda porta que abre para a nave da igreja de Santa Cecília, em Volta Redonda, com duas bandas, nos mostra duas datas, 1671 – 1741. Perguntaram ao vigário, padre Flávio a que se referiam. Ele não soube dizer e passou a pesquisa para o pesquisador José Adal. Procurando na internet ele encontrou pistas.

Antes de tudo, porque essa segunda porta na igreja? Em um curso para acólitos, diz: “Muitas igrejas, logo a seguir à porta da entrada, têm um pequeno átrio, isto é, um espaço vazio. Isso quer dizer que quem vem de fora não entra logo na igreja. Noutras, este átrio é antes da porta principal. Seja duma maneira ou de outra, é bom que haja um espaço para que as pessoas, quando chegam de casa ou quando saem da igreja possam, no caso de estar a chover ou de fazer muito calor, falar aí umas com as outras. Quando o átrio é depois da porta principal, existe um guarda-vento, que faz mais do que guardar o vento, porque também guarda do frio, do barulho da rua, e evita que os cãezinhos que acompanham os donos entrem na igreja, que não é lugar para eles. Quando a igreja tem guarda-vento, é nele que está a porta ou as portas pelas quais se entra diretamente na igreja.

Agora vamos examinar a questão. É preciso dizer primeiro que nos vitrais deste guarda-vento aparecem imagens da igreja do Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro. O pesquisador começou procurando informações sobre a irmandade que mandou construir a igreja centenária. 

Encontrou esta referência numa obra do historiador Bruno da Silva Antunes de Cerqueira, Outeiro da Glória - Brevíssima História: “A única certeza, para todos os pesquisadores da história da IINSGO [Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro], é que em 1671 o multifacetário Antônio de Caminha — carioca, segundo os registros de batizado disponibilizados no Colégio Brasileiro de Genealogia, e confirmados pelo Livro de Batizados da Cúria Arquiepiscopal de São Sebastião do Rio de Janeiro, mas tido e havido por português de Aveiro, para diversas fontes —, proprietário e artífice no Rio de Janeiro setecentista, esculpiu a primitiva imagem de Nossa Senhora da Glória para veneração na ermida, como narra Rosa Maria Dias da Silva: ‘Escultor, santeiro e mestre de obras, o ermitão, com seu próprio esforço, construiu mais tarde, em madeira e barro, uma rústica capela dedicada à Virgem. Homem habilidoso, sem vaidade, andava simplesmente com o hábito da Ordem Terceira de São Francisco. Era abastado e possuidor de muitos terrenos (...).
Quanto a outra data o mesmo documento chega bem perto: “Os romeiros e devotos da Senhora da Glória do Outeiro ganham forte impulso oficial quando escrevem ao 4º Bispo do Rio de Janeiro, D. Frei Antônio de Guadalupe em 09 de julho de 1739, pedindo-lhe permissão para erigirem uma Irmandade que preste culto digno e conforme a Nossa Senhora da Glória. Não deve se espantar o leitor com essas informações. Os documentos coloniais são dessa forma. A irmandade já existia, mas requeria-se ao novo bispo uma permissão oficial e toda especial para que ela existisse, de pleno direito. E assim foi feito: a 10 de outubro de 1740, D. Frei Antônio de Guadalupe concede a licença eclesiástica e a 07 de janeiro de 1740 aprova o Compromisso. A placa alusiva a essa gloriosa aurora está na parte traseira de nossa igreja, como se vê na fotografia disposta no livro”.

http://outeirodagloria.org.br/historia/historia-irmandade-cerqueira/

Porque a CSN comprou este lindo guarda-vento que ficaria mais de acordo lá, no Rio, no Outeiro da Glória, na bela igreja, não sei dizer, ainda.

domingo, 27 de novembro de 2016

É UMA APOLOGIA ÀS DROGAS?

“Escrevi tudo isso naquele caderno branco que meu professor de inglês me deu há tantos anos. Essas epístolas, datadas e assinadas em letra cuidadosa, se alternavam com acessos infelizes em que escrevia com letras muito grandes ocupando toda a página, EU ODEIO TODO MUNDO ou QUERIA ESTAR MORTO. Daí, eram entremeadas com letras mau escritas: faz três dias que não vou a escola, sou quase um zumbi, ficamos tão chapados ontem à noite que meio que apaguei, jogamos um jogo de computador, jantamos sucrilhos e pastilhas de hortelã”.
É um garoto de 15 anos que começou a usar drogas com um colega. Roubavam para arranjar dinheiro ou o pegava na carteira do pai. Estou terminando o livro O PINTASSILGO e as descrições do uso de drogas é alucinante. O rapaz é de boa família, faz faculdade e consegue abandonar o vício. O outro se perde no mundo do crime, mas não morre. Então, a escritora Donna Tartt diz o seguinte (p. 710):
“Mas aí está o que eu realmente queria que alguém me explicasse. E se alguém por acaso tem um coração não confiável? Que por seus próprios motivos insondáveis afasta a pessoa, de uma boa saúde e vida doméstica, da responsabilidade cidadã e de todas as virtudes? Se seu eu mais profundo está te atraindo direto para a fogueira, o melhor é se afastar? Pôr-se no rumo que vai te levar a norma, aos relacionamentos estáveis e a progressão na carreira? Ou o melhor é se jogar de cabeça, rindo da fúria e gritando por ela?”

É o que se chama a apologia às drogas ou é um questionamento profundo do ser humano, na luta por sua alma? 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

PARE DE CORRER

Desde que me entendo - e aí passaram 65 anos - vivi num mundo bem tranquilo, em que o tempo passava devagar, e neste nosso que tudo acontece rapidamente. Estou lendo um livro que herdei de meu pai, Cascalho, falando das zonas de garimpo, e na p.152 li sobre um tempo bem diferente de agora:
"Os dias de correio eram grandes dias. Representava uma evasão da rotina. Com cartas da família chegavam jornais. Havia correio uma vez por semana, aos sábados. As malas postais vinham pela estrada de ferro até um cidade maior e depois, por 14 léguas [cada légua equivale a 4.828m], 65km, em lombo de burro. Quando os animais atravessavam a praça com suas cargas postais, havia uma agitação.
O promotor mandou um funcionário à agência dos correios e sentou-se para ler. Mas não conseguia deter a atenção nas páginas. Seus pensamentos estavam longe: Como estaria sua mãe e irmãs? Será que o dinheiro que lhes mandou deu para as despesas? E como andaria seu partido político, o Liberal? E a campanha para as próximas eleições, como estavam transcorrendo? E desse modo não conseguia ler, toda hora prestando atenção ao barulho de cascos na praça: seria o correio?"

Há pouco peguei na minha caixa do correio uma propaganda para uma internet mais rápida. Hoje, sabe-se o que está se passando do outro lado do mundo. E são informações sobre tudo. Tudo rapidamente, na correria.
Faz-me lembrar uma previsão de Jesus (Mateus 24:26, 27): "Portanto, se vos disserem: ‘Eis que Ele está no deserto!’- não saiais. Ou ainda: ‘Ele está ali mesmo, nos cômodos de uma casa!’- não acrediteis. Pois, da mesma maneira como o relâmpago parte do oriente e brilha até no ocidente, assim também se dará a vinda do Filho do homem".
Parece que Jesus fala de informações na velocidade de um relâmpago: Ele está ali, Ele está no deserto, Ele está...
O conselho dele foi: Não acredite, não vá atrás de tudo que ouve.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

COMO DEVIA SER E ACABA NÃO SENDO

"Há na multidão que povoa um país, quatro categorias:
todos os habitantes;
os adultos com direito a voto;
os homens e mulheres que tem consciência dos seus deveres e direitos e lutam por eles;
e aqueles, investidos de cultura intelectual e moral, com espírito elevado e que são capazes de sobrepor aos seus interesses próprios ou partidários, o destino de dirigir a multidão".
O poeta Olavo Bilac no livro A Defesa Nacional, de 1916.

- Zé, então ele não conheceu o Lula e essa porcalhada de políticos!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

LI UM NEGÓCIO QUE ME DEU UM ESTALO

Sabe a Bolsa Família? Pois é, em 1915, sob a presidência de Venceslau Brás, o governo inventou de criar o Serviço Militar Obrigatório, sabe para quê? Foi o que li, escrito por Alberto Torres: "Como meio de revigoramento do espírito cívico de nossos jovens, para lhes dar disciplina patriótica e para lhes exaltar a coragem e a energia moral".
Mas por que nossos jovens precisavam disso? Ele continua: "O Brasil é a pátria de uma população sem nexo social, um acampamento de gerações sem herança de bens e de bons costumes, uma feitoria de aventureiros. Um país em que sua gente morre na miséria enquanto uns poucos ganham riqueza com a falência de seu destino moral".
Então, por que a elite tem essas ideias salvadoras como o Bolsa Família? Diz ele: "É o impulso reflexo, descoordenado. Ninguém está disposto a repor a mente da Nação". Mas, por que? "Em uns o egoísmo ou o exclusivismo do partido, em outros a incapacidade de decidir e de agir".
O mundo fala da alegria e despreocupação deste povo maravilhoso, mas é aí que mora o perigo.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

BASTAM POUCAS PALAVRAS

"Nosso partido promete pugnar por dois princípios em que se firmam a Democracia: respeito a liberdade individual e a difusão do ensino público.
Prometemos ainda levantar o crédito público equilibrando o orçamento, animar a iniciativa individual e restaurar a confiança no trabalho.
Sobretudo prometemos: firmar as liberdades constitucionais recuperando o respeito à lei e o prestígio à autoridade.
Essas são as melhores condições para assegurar a Ordem e o Progresso".
Manifesto do Partido Republicano, em 1893 - tirado do livro A Primeira República.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

TUDO ACABA PASSANDO.

Bate-nos, às vezes, uma tristeza, um desapontamento com a vida. Aprendi que num momento desses, se olhamos para algo da natureza a alegria invade de novo o coração. Pode ser apenas levantar os olhos e observar uma nuvem na tela azul do céu, ou um bem-te-vi cantando num galho de uma solitária árvore de rua.

O livro Brumas do Passado fala de um momento assim vivido pela personagem (p. 118): “Tinha uma quantidade de ideias que não compreendia bem. Então, às vezes, a verdade me aprecia em um lampejo que me assustava e surpreendia ao mesmo tempo. Lembro-me de um dia em que voltava para casa ao cair da tarde. A estrada passava por um trecho cheio de árvores e me peguei observando o sol se insinuando entre os troncos escuros. Como iluminava um grupo de galhos fazendo cintilar a resina que escorria da casca e dando um brilho de aço as folhagens mais ao alto. Porém, conforme caminhava o sol parecia andar comigo deixando a sombra envolver aquela árvore e iluminando outra. Num desses lampejos de compreensão que temos muito raramente entendi no fundo do coração que é assim que acontece com a humanidade toda. Percebi que é o que sucede quando uma pessoa fica muito famosa ou rica. Não demora muito tempo e ela vai para o esquecimento ou perde sua fortuna. Assim é a vida, os raios de sol ora aquecem um ora outro e deixa este na sombra e amanhã aquele”.

Sendo assim, não vale a pena termos inveja de quem tem muito nem nos orgulharmos quando chega nossa vez de possuir ou conquistar algo. Tudo acaba passando.