quarta-feira, 6 de maio de 2009

Unindo o território nacional


Volto a falar do livro, Brasil País do Futuro, porque me impressiona as linhas de raciocínio de Stefan Zweig. Quando fala das Capitanias Hereditárias, diz;'' O território com sua
gigantesca vastidão e com suas ilimitadas possibilidades quer e pede mãos, e cada uma que a ele chega acena para Portugal, solicitando outras e outras. Mas, como sempre, desde o começo da época heróica, os cofres estão vazios. Por isto é necessário uma experiência para povoar a terra, promover a colonização por meio da iniciativa privada. O território que, por assim dizer, ainda está inabitado, é dividido em doze capitanias, e cada uma delas é doada, com plenos direitos hereditários, a um cidadão, o qual tem que se obrigar a desenvolver, por meio de colonização, essa faixa de terra, ou melhor, esse reino''. Há quinhentos anos já os soberanos entregavam as obras públicas para ser tocadas por cidadãos, já que os cofres públicos derramavam os tesouros para uma elite gastadeira.
Daí, Zweig diz que o soberano comete o erro de escolher homens velhos, já sem ânimo para a empreitada, e só duas capitanias se desenvolvem. Lições que a História nos ensina sobre a dificuldade em delegar poderes. Mas foi bom, a terra de Santa Cruz não tinha por destino ser dividida em reinos.
A tarefa se mostrou difícil para os cidadãos poderosos. Um deles, “o donatário Luiz de Góes, desesperado, escreve, a 12 de maio de 1548, a el-Rei: 'Se com tempo e brevidade Vossa Alteza não socorre a estas capitanias e costa do Brasil, ainda que nós percamos
as vidas e fazendas, Vossa Alteza perderá a terra'. Se Portugal não der uma organização unitária ao Brasil, estará este perdido. Só um representante resoluto do rei, um governador geral, que também leve consigo poder militar, poderá estabelecer ordem e, ainda a tempo, congregar numa unidade os pedaços em que o Brasil se está desfazendo”. Poderes maiores movem as coisas para se fazer a unidade do país.
Chega Tomé de Souza ''com mil homens e seis jesuítas com suas batinas pretas e singelas. Esses seis homens trazem o que de mais precioso um povo e uma terra necessitam para sua existência, trazem uma idéia, a idéia verdadeiramente criadora do Brasil. Os jesuítas são os primeiros que nada querem para si e tudo querem para esta terra. Trazem consigo plantas e animais para cultivar o solo; trazem medicamentos para curar os enfermos, livros e instrumentos a fim de ensinar os incultos. Descobrimento, para a moral dos conquistadores do século dezesseis era igual a conquista, subordinação, sujeição, privação de direitos, escravização''. Os jesuítas foram um presente de Deus para o Brasil, daí sempre se dizer que Deus é brasileiro.
''Sem posses, tanto os indivíduos como a ordem, personificam uma determinada vontade, portanto um elemento ainda de todo espiritual, ainda não inteiramente imiscuído no que é secular. E chegam na melhor hora, pois para sua grandiosa concepção, a de, por meio de campanhas espirituais, restabelecer a unidade religiosa do mundo, o descobrimento de um novo continente representa um lucro inaudito''.
Então, Zweig diz uma coisa fabulosa; ''Eles, ao contrário, como 'os únicos homens disciplinados de seu tempo', conforme diz Euclides da Cunha, passando por cima desse processo de colonização pelo roubo, pensam no processo de edificação por meios morais, pensam nas gerações vindouras e, desde o primeiro instante, estabelecem na nova terra a
equiparação moral de todos entre si''. Não tinham pressa para criar uma nação aos moldes de sua ordem; '' Os primeiros dias após a chegada dedicam os jesuítas a tomar conhecimento da situação. Antes de ensinar querem aprender, e imediatamente um deles trata de, o mais depressa possível, aprender o idioma dos aborígenes. Os jesuítas sabem perfeitamente que serão necessárias gerações e gerações para que se complete esse processo de "abrasileiramento" e que cada um deles que arrisca a vida, a saúde e as forças nesse começo, jamais verá os menores resultados de seus esforços. É um trabalho penoso, de semeadura, que eles começam, é um empreendimento árduo e, na aparência, sem esperança. Mas o ter ele início numa terra de todo inculta e numa terra sem limites aumenta-lhes a energia, em vez de a diminuir; assim como a vinda oportuna dos jesuítas é para o Brasil uma sorte, o Brasil é, por sua vez, uma sorte para eles, porque é a oficina ideal para seu apostolado''.
Assim, o Brasil sempre foi um país em preparação para futuro. E como diz um outro dito muito repetido, quem viver verá, se somos o país do futuro.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Conhece-te a ti mesmo



Estou lendo os ensinamentos de Sócrates pela primeira vez. Já li muito sobre ele, mas aos pedaços. Agora estou lendo tudo o que Platão, Xenofonte e Aristófanes deixaram escrito sobre ele.
O livro Saber – A Riqueza das Nações, diz assim sobre ele: “Este grego desviou o foco das indagações do Universo para o interior do próprio homem, o Existencialismo. Era uma pessoa de contrastes, feio fisicamente, mas de uma simpatia mágica. Era sagaz, possuía bom humor e era dono de ótima conversação. A vida familiar era bem complicada: a mulher era ranzinza e megera. Ele preocupava-se pouco em ganhar dinheiro e vivia para seus estudos, em conseqüência as dívidas aumentavam e sua mulher mais irritada ficava. Porém, levando uma existência simples e sem luxo gastava bastante tempo em palestras, estudos e debates. Não deixou escritos e tudo que se sabe dele foi relatado por seus discípulos e opositores. Sua forma de ensinar consistia em levantar um tema, ironizar o desconhecimento dos discípulos levando-os a levantar questões, fazê-los admitir a própria ignorância e então induzi-los a encontrar as próprias respostas. Esta forma de ensinar chama-se maiêutica (parto das almas), trazer à luz idéias adormecidas no espírito do aluno. A dialética socrática é o método educacional pelo diálogo: proposição da tese, a crítica pelo professor, ou antítese, e a síntese, a descoberta das soluções pelos próprios alunos”.
Nascido em 470 a.C. teve uma vida parecida com a de Jesus Cristo. Como Jesus ele dizia ter uma missão que lhe foi dada por espíritos, como o nazareno ele ensinava sem cobrar e como Nosso Senhor ele foi condenado a morte em 399 a.C com acusações falseadas motivadas por inveja e medo da classe dominante da época.
Sócrates ensinou muitas coisas preciosas, mas vou falar agora o que ensinava sobre o exercício físico. Dialogando com o jovem Epígenes, disse: “Saúde e vigor é o galardão dos bem constituídos de corpo”. E enumera as vantagens do indivíduo forte: 1. salva-se com honra na guerra, 2. sobreleva os perigos, 3. socorre os amigos, 4. presta serviços à pátria, 5. torna-se dignos de merecimentos, 6. ganha fama, 7. alcança honras, 8. passa o resto da vida ditoso, e 9. deixa aos filhos preciosos meios de existência. Conclui: “Convence-te, nunca te arrependerás de haver exercitado o corpo”.
Para os de minha idade, disse: “Ignominioso é envelhecer em indolência, sem saber o quanto poderia acrescentar ao seu corpo em força e beleza”. E arremata com ironia: “Isto só se consegue mediante o exercício, que tais presentes não nos caem do céu”.
Citações de Xenofonte (430-355 a.C), o retrato de Sócrates mostro de outra vez.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Brasil País do Futuro


Comecei a ler, Brasil País do Futuro, de Stefan Zweig (1881-1942). Por anos escutei e repeti estas palavras como zombaria: as predições do estudioso austríaco ficaram só no papel. Mas agora começa a se delinear o que aos olhos deste estrangeiro era tão evidente, nossa terra tem imensas vantagens que ajudarão a humanidade nos dias difíceis que advirão. A posição geográfica mais favorável diante do aquecimento global é uma; as riquesas minerais sempre foram reconhecidas mesmo pelo brasileiro mais descrente de nossas possibilidades; e o povo, nós mesmo - motivo de piada mesmo para nosotros, galhofeiros - que Zweig admirou por sua cordialidade e paciência, precisou escolher um presidente oriundo de nossa classe social mais baixa para começar a perceber como é inventivo, trabalhador, previdente e, principalmente, uma gente que sabe misturar tudo isto com bonomia, danças, muita música e futebol.
Em que errou, foi no que tanto nos avisou, mas que políticos, tudo menos representantes deste povo, foram insensíveis ou, preocupados só com seus lucros, não viram - era preciso usar todos os recursos que temos para dar oportunidade aos nossos jovens. Sem dar prespectivas a boa parte das novas gerações, o Brasil produziu guetos, lutas cruéis de classes e indivíduos sem cordialidade, tudo que Zweig deplorava na Europa e elogiava em nós mesmos. E cegos os nossos políticos continuam achando que roubar para si mesmos o dinheiro público - que seria usado para fazer de nosso país um país bem sucedido agora mesmo - é o mais inteligente que podem fazer. É verdade que Zweig viveu no Brasil de 1940, tempo em que se dizia aqui no Rio, ''que malandro que é malandro é honesto só por malandragem''. Porém, mesmo com a atuação de maus brasileiros, parece que esta terra tem mesmo um destino de grandeza nos planos dos guardiões de nosso mundo.

Mas voltando ao livro, Brasil País do Futuro, se vê que Zweig foi dos primeiros estudiosos da formação do país que defendeu que a descoberta do Brasil não foi um acaso provocado por uma calmaria. Ele diz: "Era preciso estar legalmente garantido que essa nova terra pertencia não à Espanha, mas sim à Coroa portuguesa, e isso Portugal, com manifesta previdência, garantira a si por meio do Tratado de Tordesilhas, que em 7 de junho de 1494, portanto pouco depois do descobrimento da América, ampliara a zona portuguesa, das primitivas cem léguas para trezentas e setenta a oeste do Cabo Verde – justamente, pois, tanto que abrangesse ela a costa do Brasil, ao que se diz, ainda então não descoberta. Se essa ampliação foi uma casualidade, não deixou de ser uma casualidade que concorda admiravelmente com o desvio de Pedro Alvares Cabral, da rota natural".

Mas uma coisa que me fez pensar foi Zweig explicar que Portugal não deu atenção as novas terras, como uma mãe que não recebe com carinho um novo filho. "Nesse tumulto de paixões, um evento de tanta importância histórica como o descobrimento do Brasil apenas é notado. Nada é mais característico do menosprezo desse fato, do que, em sua epopéia, Camões, entre seus milhares de versos, referir-se apenas vagamente ao descobrimento ou à existência do Brasil. Os marinheiros de Vasco da Gama levaram para Portugal tecidos custosos, jóias, pedras preciosas e especiarias e, sobretudo, a notícia de que nos palácios dos rajás havia milhares de vezes mais do que aquilo. Se essa Ilha ou Terra de Santa Cruz encerra riquezas, elas só podem ser riquezas potenciais, e têm que ser conquistadas com trabalho penoso de anos. Mas el-Rei de Portugal necessita de lucros rápidos, imediatos, para saldar as suas dívidas. É, pois, preciso dirigir as vistas para as Índias, a África, as Molucas, o Oriente. Por isso, a Terra de Santa Cruz se torna a irmã desprezada entre as três irmãs, a Ásia, a África e a América, e, apesar disso, a única que, na hora do infortúnio, se manterá fiel". Pensei: Será por isto que até hoje o brasileiro tem esta mania de achar que os outros países são melhor do que a nossa terra e dar mais valor as coisas estrangeiras? Brasil, país de agora.

sábado, 4 de abril de 2009

Lendo e aprendendo


Acabei de ler um livro de Joanna Hershon, também não conhecia ela. Prometia “um retrato marcante de uma família conturbada”, não foi tão bom como pensei. Isto me lembra que preciso ler de novo um livro da biblioteca de meu pai que li quando era garoto, A Família Brontë. O que ainda me lembro dele é que nos mostra uma tremenda tensão numa família com um chefe sem sensibilidade. Mas em À Margem de Alice, este livro que acabaei de ler, tem algumas imagens que nos fazem pensar, como quando a garota fala do amor incompleto que sentia pela mãe: “Alice olhava para sua mãe, de quatro no chão, esfregando... olhar era tudo o que ela podia fazer para não tocá-la do modo com tocaria um cavalo – hesitante, com amor e medo, além de vergonha pelos bolsos vazios de maçãs e açúcar”.
Uma imagem literária é interpretada por cada leitor de um jeito. Como você entende esta frase? Se quiser ponha um comentário no blog.
Ou esta outra imagem: “Sua mãe inclinava o rosto em direção ao Sol – como se o Sol fosse um tímido pretendente precisando ser encorajado para um beijo”.
Também tem algumas definições felizes, como esta: “Os colecionadores são solitários que buscam fugir da solidão por meio da vida de outras pessoas”. Ou esta outra: “Surfando sentia, cada vez que estava no alto de uma onda, que todas as expectativas e decepções da vida desaparecem”.
Gostei também das observações íntimas, como esta: “O pai observava sua mãe, certificando-se, com todo o seu ser, de que ela não cairia. Alice começou a suspeitar que seu pai usava esse amor como uma forma de evitar uma intensa decepção consigo mesmo, com seu fracasso como marido que não conseguia motivar sua mulher”.
Sobre dois temas aprendi alguma coisa. Ansiedade é um: “Quando os colegas tiravam uma folga das pesquisas, Alice nunca o fazia”; "Tinha medo de se sentir desocupada ou – indo mais direto ao ponto – desnecessária”; “O que ela realmente temia era passar os dias sem precisar prestar contas a alguém e ter uma abundância de escolhas pra fazer”; "Talvez tudo isto fosse por causa de uma pergunta que ela não conseguia formular e precisava desesperadamente da resposta”. Achei nestas descrições alguns motivos para esta doença da qual também padeço.
O outro tema é o Suicídio. Não que busque esta saída, mas porque sempre cogitei do porquê alguém busca esta morte. Talvez porque quando era menino vi uma porção de gente correr para a casa de uma vizinha onde a filha, adolescente, acabava de se matar com soda cáustica. Comecei a ler o livro, Memórias de Um Suicida, de Yvonne A. Pereira, para ver se encontrava alguma resposta, mas o início foi tão igual ao Inferno, de Dante, que desanimei.
Neste livro achei algumas dicas quando ela descreve o suicídio da mãe: “Estava sob forte efeito de remédios (ou drogas) e divagava, sua mente ficava voltando a uma única frase. Talvez quisesse ficar rodeada, por alguns instantes, somente pelo que lhe pertencia ou talvez quisesse queimar todas suas recordações... viu e sentiu o que estava por acontecer... e foi tragada, seduzida pelo poder que se acumulava mais rápido que ela poderia ter imaginado. E foi então que Charlotte (a mãe) tomou consciência de que não queria se mover?”.
Viu? Em cada livro, mesmo que não seja dos bons ou ainda que não seja um ensaio científico, nos ensina muito. Tem algum livro pra ler aí?

terça-feira, 31 de março de 2009

Vendo um planeta de outra estrela


Quantas coisas os humanos inventaram para suprir suas deficiências, como nossa visão tão precária.
O livro Saber – O Tesouro das Nações diz que em uma tarde, em 1869, observando a luz que emanava de um frasco onde ocorria uma reação química, o físico Gustav Robert Kirchhoff (1824-1887) sugeriu ao seu colega de pesquisa, o químico Robert Wilhelm Eberhard von Bunsen (1811-1899) que usassem um prisma para estudar os diversos comprimentos de onda de luz que revelariam os elementos que estavam presentes naquela reação luminosa. Colocando entre a luz e o prisma um anteparo com uma fina fenda eles obtiveram um espectro projetado numa tela como uma escala. A fonte de calor que Bunsen usava nas reações químicas, o bico com chama fina soprada, foi fundamental nos seus experimentos, pois não interferia na luz produzida pelo composto. Era maravilhoso ver no espectroscópio (que eles logo passaram a usar) a “impressão digital” de cada elemento, como o Na (sódio) que ao ser aquecido produzia uma luz com uma dupla linha amarela. Em 1863 o astrônomo sir William Huggins (1824-1910) usando a recente descoberta do alemão Kirchhoff sobre o uso da espectroscopia no estudo das estrelas, declarou: “Os mesmos elementos que existem na Terra existem nas estrelas”. Só 70 anos depois, em 1932, o astrônomo Rupert Wildt (1905-1976), trabalhando no Observatório de Yale, conseguiu identificar as substâncias químicas, metano e amônia, pela luz que formava a imagem do planeta Júpiter no telescópio.
Agora, o ser humano está estudando planetas em outros sistemas de estrelas pela técnica da relação entre as nuanças de cores da luz que vêm deles e as substâncias químicas correspondentes. Aí você pergunta: Mas que luz vem de um planeta se ele não tem luz própria?
Usando o telescópio Hubble os astrônomos estudaram a atmosfera do planeta ainda sem nome, a 63 anos-luz de distância, do tamanho de nosso vizinho Júpiter, e que tem como identificação a sigla HD 189733b. Um cientista da NASA disse: “Entramos numa era em que conseguimos detectar a quantidade de moléculas de cada elemento na atmosfera de planetas extra-solares. Neste encontramos uma boa quantidade de dióxido de carbono e monóxido de carbono que são produzidos por seres vivos. A abundância destas substâncias nos dá esperança de que aquele planeta seja outro hospedeiro da vida”. Para que a luz da estrela, em volta da qual gira este planeta, não interfira nos elementos dele, os cientistas aproveitaram um eclipse, quando o HD 189733b ficou às escuras encoberto por outro planeta. Nesta ocasião usaram um telescópio denominado NICMOS (Multi- Objeto com câmeras com espectrômetro de Luz Infravermelha) que detecta o infravermelho que é emitido por um elemento aquecido, no caso pelo núcleo do próprio planeta. As ondas infravermelhas são longas e ficam depois do vermelho no espectro de luz que a vista humana consegue perceber. Mas com os instrumentos que nossos cientistas inventaram conseguimos ver.
Veja a grandeza do ser humano, um filho do Criador. Com nossos olhos podemos ver tão pouca coisa, mas inventamos instrumentos que multiplicam nossas capacidades até tão longe quanto à distância que este planeta está de nós.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Eu robô


A democracia é uma conquista do ser humana tão poderosa que ainda não nos damos conta de toda sua força. Pior, outras forças estão sempre lutando para nos tirar o direito democrático. Estes dias estava lendo sobre biopoder, esta arma pode ser bem eficiente para detonar o meu, e o seu, direito a democracia.

O filósofo Michel Foucault (http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u720.jhtm) no livro Segurança, Território, População assim define o biopoder utilizado por um governo: "É o uso da vida como elemento nos jogos de poder, isto é, o conjunto de mecanismos pelos quais aquilo que, na espécie humana, constitui suas características biológicas fundamentais vai poder entrar numa política pública, numa estratégia geral de poder".
Neste livro ele desenvolve sua visão do biopoder na história. "O poder não é um objeto, um bastão que passa de um soberano para seu filho ou outra pessoa, mas algo que se mistura nas relações da sociedade". Ele pensa assim os mecanismo do poder: "O governo cria estratégias que se estabelecem no seio social e que têm por objetivo a regulação e o controle das formas de existência, sendo fortemente calcadas em preceitos econômicos, morais e religiosos". A forma mais comum de se meter na vida de um indivíduo é pela força física e tanto chefes tribais no passado quanto governos autoritários agora agiram com violência para controlar as pessoas. Cada intervenção muda totalmente a vida dos membros de uma família e de todos que lidam com eles. Os conservadores ou de direita, que estão do lado do chefe - na maior parte das vezes por interesse - ousam dizer que esta intervenção cruel na vida dos outros é garantia da sobrevivência do grupo ou da sociedade. Isto é biopoder.
Foucault chama este imiscuir de humanos sobre seus semelhantes de "governamentalidade": "São estratégias de um saber político que tem no cerne de suas preocupações a regulação da população, ou seja, a condução da vida dos indivíduos que estão sob a égide de um guia responsável pelo modo como agem e pelo que lhes acontece. É um poder pástoral que exerce pressão menos sobre um território fixo e mais sobre uma multidão que ele quer que se desloque rumo a um determinado objetivo". E lá vamos nós, tocados mesmo sem querer ir pra tal lugar! Ele lembra os soberanos pastores sobre o povo de Israel, conforme contado na Bíblia. Moisés, por exemplo. Quando alguns queriam voltar para o Egito ele criou situações para satasfazê-los e continuar tocando-os para Canaã, para tomar a terra do que viviam ali. Em Êxodo 16 conta: "Ali, no deserto, todos eles começaram a reclamar: Teria sido melhor que o Deus eterno tivesse nos matado no Egito! Lá, nós podiamos pelo menos nos sentar e comer carne e outras comidas à vontade. Moisés ouviu o povo: Diga-lhes que à tarde, antes de escurecer, eles comerão carne". Me lembra o Bolsa família.
Não se engane, "são muitas as argúcias, mecanismos e o conjunto de procedimentos que assumem a função de gerir a vida das pessoas, produzindo forças, nutrido-as e fazendo-as crescer para organizá-las e ordená-las mais do que ceifá-las ou destruí-las".
Assim, o jeito é agente ficar atento, impedindo que se metam o menos possível na nossa vida e de nossa família. Mas não é fácil!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A Sobrevivência dos mais fracos


Comentando a crise global, o senador Aloizio Mercadante, disse: “Nas épocas de maior pressão evolutiva, há extinções em massa e o surgimento de espécies mais adaptáveis. Ora, a crise exerce grande pressão evolutiva sobre países. Num processo darwiniano de seleção, a crise deverá prejudicar muitos, mas poderá beneficiar alguns. Esses últimos poderão se colocar, na nova ordem mundial, em posição vantajosa”.
Assim, uma companhia como a GM que resiste em construir carros mais econômicos e que usem combustível vegetal renovável devia se extinguir como os dinossauros. Acontece que a sociedade humana criou mecanismos para proteger os mais fracos, o oposto do que faz a natureza, e assim esses não adaptados vão freando e atrasando a marcha da humanidade para uma existência mais segura dentro das leis universais.
Por falar em dinossauros: o asteróide que se chocou com a Terra e modificou as condições climáticas que beneficiavam a existência dos grandes répteis e dificultava a sobrevida dos mamíferos, caiu aqui como parte de um infinito projeto divino para aprimorar os seres deste planeta até aparecer o homo sapiens ou foi tudo um acaso? Se aquela enorme bola de rocha não tivesse desviado o destino dos seres vivos neste planeta, ainda seríamos dominados pelos dinos?
Um colega mais religioso e que não consegue coadunar a evolução das espécies com a criação divina pode torcer o nariz para as coisas ditas aqui, mas pensando bem, foi antes de se compreender a seleção dos mais fortes que a sociedade humana não respeitava a vida dos indivíduos que nasciam com deficiência. Nossos índios não tinham a menor compaixão com um filho que nascia com membros defeituosos e os abandonava para morrer. Foi só depois que os conceitos de Darwin foram publicados, discutidos e assimilados pelos intelectuais é que estes lutaram para melhorar e proteger a condição dos que entre nós nascem com desvantagens, como os surdos e cegos, ou com membros mal formados. Assim, mesmo sabendo que aprimorar a raça humana é uma tarefa para os mais bem dotados protegemos nossos filhos que chegam à vida com dificuldades. Por que? É que aprendemos que somos um time, a raça humana é uma tribo com pessoas de diversos dons. Pergunte a uma família com um filho com síndrome de Down e seus membros vão contar como aquela criança frágil é uma benção para todos eles, como os mantém mais conscientes do valor da vida e menos prepotentes e criadores de casos.
Não podemos esquecer que quando houve a grande crise causada pelo asteróide que bateu em nosso planeta foram os mais fracos, os pequenos, sem carapaças, desfalcados de poderosas garras e dentes, os mamíferos fofinhos, é que mantiveram a vida neste planeta de rocha.
Ah, sim. Mercadante falou sobre posição vantajosa, a propósito da educação que faz um homem simples se tornar um poderoso guerreiro intelectual. “Nosso sistema educacional é precário, pré-analógico. A maior parte das crianças brasileiras não tem acesso às tecnologias que abrirão as portas do futuro. Convivemos com um apartheid digital que perpetua o apartheid social que nos amarra ao atraso”. Em tempos de aperto, de comprar menos, insentive seus colegas que ainda não usam o computador a comprar um e fazer um plano de comunicação pela internet.

Jesus, os nosso Mestre falou disso. Falou de internet? Quase (Lucas 14:12): "Quando você der um almoço ou um jantar convide os pobres, os aleijados, os coxos e cegos e você será abençoado"; agora leia assim: "Quando você tiver um bom computador e uma internet rápida convide os pobres, os aleijados, os coxos e cegos e você será abençoado". Vou fazer isso!