sábado, 4 de abril de 2009

Lendo e aprendendo


Acabei de ler um livro de Joanna Hershon, também não conhecia ela. Prometia “um retrato marcante de uma família conturbada”, não foi tão bom como pensei. Isto me lembra que preciso ler de novo um livro da biblioteca de meu pai que li quando era garoto, A Família Brontë. O que ainda me lembro dele é que nos mostra uma tremenda tensão numa família com um chefe sem sensibilidade. Mas em À Margem de Alice, este livro que acabaei de ler, tem algumas imagens que nos fazem pensar, como quando a garota fala do amor incompleto que sentia pela mãe: “Alice olhava para sua mãe, de quatro no chão, esfregando... olhar era tudo o que ela podia fazer para não tocá-la do modo com tocaria um cavalo – hesitante, com amor e medo, além de vergonha pelos bolsos vazios de maçãs e açúcar”.
Uma imagem literária é interpretada por cada leitor de um jeito. Como você entende esta frase? Se quiser ponha um comentário no blog.
Ou esta outra imagem: “Sua mãe inclinava o rosto em direção ao Sol – como se o Sol fosse um tímido pretendente precisando ser encorajado para um beijo”.
Também tem algumas definições felizes, como esta: “Os colecionadores são solitários que buscam fugir da solidão por meio da vida de outras pessoas”. Ou esta outra: “Surfando sentia, cada vez que estava no alto de uma onda, que todas as expectativas e decepções da vida desaparecem”.
Gostei também das observações íntimas, como esta: “O pai observava sua mãe, certificando-se, com todo o seu ser, de que ela não cairia. Alice começou a suspeitar que seu pai usava esse amor como uma forma de evitar uma intensa decepção consigo mesmo, com seu fracasso como marido que não conseguia motivar sua mulher”.
Sobre dois temas aprendi alguma coisa. Ansiedade é um: “Quando os colegas tiravam uma folga das pesquisas, Alice nunca o fazia”; "Tinha medo de se sentir desocupada ou – indo mais direto ao ponto – desnecessária”; “O que ela realmente temia era passar os dias sem precisar prestar contas a alguém e ter uma abundância de escolhas pra fazer”; "Talvez tudo isto fosse por causa de uma pergunta que ela não conseguia formular e precisava desesperadamente da resposta”. Achei nestas descrições alguns motivos para esta doença da qual também padeço.
O outro tema é o Suicídio. Não que busque esta saída, mas porque sempre cogitei do porquê alguém busca esta morte. Talvez porque quando era menino vi uma porção de gente correr para a casa de uma vizinha onde a filha, adolescente, acabava de se matar com soda cáustica. Comecei a ler o livro, Memórias de Um Suicida, de Yvonne A. Pereira, para ver se encontrava alguma resposta, mas o início foi tão igual ao Inferno, de Dante, que desanimei.
Neste livro achei algumas dicas quando ela descreve o suicídio da mãe: “Estava sob forte efeito de remédios (ou drogas) e divagava, sua mente ficava voltando a uma única frase. Talvez quisesse ficar rodeada, por alguns instantes, somente pelo que lhe pertencia ou talvez quisesse queimar todas suas recordações... viu e sentiu o que estava por acontecer... e foi tragada, seduzida pelo poder que se acumulava mais rápido que ela poderia ter imaginado. E foi então que Charlotte (a mãe) tomou consciência de que não queria se mover?”.
Viu? Em cada livro, mesmo que não seja dos bons ou ainda que não seja um ensaio científico, nos ensina muito. Tem algum livro pra ler aí?

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