quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Falando com um deprimido


O psiquiatra Augusto Cury falando sobre depressão ensina que ao falar com alguém nesta situação não se deve ser condescendente ou trata-lo como um “pobrezinho” e aconselha a falar assim: “Quem disse que você é uma pessoa frágil que esgotou o prazer de viver? Ou um pobre que não consegue carregar o peso das suas perdas? Para mim você não é nada disso. Para mim, você é apenas um homem orgulhoso, alienado de misérias maiores que a sua”.
Cury diz que sua experiência com este modo de tratar o deprimido teve, entre outras, a seguinte resposta: “Um triste homem disse que na hora que falei isto pensou no pai que lhe esmagara a infância e lhe causara muita dor. Viu-o como uma pessoa emocionalmente distante, alienado e enclausurado em si mesmo. Ao ver que tinha tocado numa ferida profunda diminuí o tom de voz: ‘Eu respeito a sua dor. Ela é única e só você consegue senti-la. Ela te pertence e a mais ninguém’. Ele ficou quieto por um tempo e falou que sempre condenara veementemente seu pai, mas que começou a vê-lo, pela primeira vez, com outros olhos. Então lhe disse: ‘Para mim, você também é um ser humano corajoso, pois tenciona afastar-se do mundo e de tudo o que ele oferece e deixar sua família, trabalho e sonhos. É sem dúvida uma bela ilusão’”.
Mas a batalha contra a depressão não é ganha tão facilmente. O homem reagiu. “Já escolhi este destino. Não tenho mais esperança”. Ao que o doutor revidou: “Você já se sentenciou a viver num limbo? E nem se deu o direito de defesa? Porque não se dá o direito de argumentar com seus fantasmas, encarar suas perdas e lutar contra suas idéias pessimistas? Você é realmente injusto consigo mesmo!”
Então, o homem lembrou que já havia procurado a ajuda de outros psiquiatras e psicólogos, mas nada tocava seu rígido intelecto, nenhuma explicação conseguiu retirá-lo do seu atoleiro emocional. O médico então desferiu uma saraivada de perguntas: “Somos apenas um cérebro organizado ou temos uma psique que coexiste com o cérebro e transcende seus limites? Que religioso pode viver sem fé? Que neurocientista pode argumentar que lhe é bastante a especulação científica? Que ateu pode defender suas idéias contra Deus sem nem um pouco de insegurança? Sabe, somos dois ignorantes, a diferença entre nós é que eu reconheço a minha”.
São tantas as pessoas com depressão hoje em dia, que bem podíamos usar esta abordagem com alguém assim que apareça em nosso caminho. Mas com bastante empatia.

Um comentário:

Unknown disse...

Bom texto.
beijos
Marcia Morelli