domingo, 18 de novembro de 2007


Uma Nação Dividida
Desde Gilberto Freire e sua obra Casa Grande e Senzala os brasileiros foram criados com a convicção de que a nação brasileira é una e que os encontros às escondidas dos coronéis e seus filhos com as negras mucamas e dos bandeirantes com as índias soldou de maneira definitiva as três raças em um só povo que respeita as diversidades e trata a todos com igualdade. E na nossa infância sentíamos isso mesmo brincando sem nenhuma diferença com colegas negros, mamelucos e brancos. Mas, já rapazes, vimos os colegas negros e mulatos irem ficando para trás nos estudos e apesar de ainda jogarmos bola juntos e sairmos irmãmente para bailes uma separação foi acontecendo. Homens feitos ainda tínhamos afeição pelos antigos colegas e até demos emprego a alguns deles, mas tanto eles quanto nós percebemos que não pertencíamos mais a mesma classe de gente, e não era só por diferença social.
Agora, as três matrizes étnicas mostram que não estavam perfeitamente misturadas como ensinava Darcy Ribeiro. Não formaram uma nova estrutura social tal qual o leite emulsificado em que a gordura e a água são divididas em gotículas bem minúsculas e assim conseguem ficar juntas sem formar a nata e o soro. O professor emérito da UFRJ, o antropólogo Otávio Velho, diz que a fórmula antiga que definia a sociedade brasileira já não dá conta de explicar os movimentos quilombolas e indígenas. Não que a nação esteja irremediavelmente dividida, mas é que a construção dela ainda não terminou.
Há dois anos uma corrente liderada pela antropóloga Yvonne Maggie se opôs a Lei de Cotas Raciais dizendo que “o Estado não poderia assumir o papel de definidor da cor da pele, porque a última experiência mundial de diferenciação de pessoas pela cor da pele ocorreu na Alemanha nazista” e deu no que deu. Otávio Velho, porém, diz que a coisa não é tão simples assim: “A Antropologia brasileira é um grande sucesso. No mundo é uma das que mais avançaram em termos da sociedade. A fórmula elaborada por ela colaborou na construção de certa imagem do Brasil. Mas o que representou sucesso pode ser uma armadilha. O que sugiro é que essa construção de nação, hoje, se mostra restrita para dar conta da toda a diversidade que se está multiplicando de maneira vertiginosa para além das fronteiras do que imaginávamos ser a nação brasileira. A nação explodiu! Tínhamos, por exemplo, a idéia de que os índios estavam restritos à Amazônia e que pouco influenciavam no conjunto da vida nacional. Mas hoje temos grupos que se consideram indígenas pipocando em todo o país, alguns deles inclusive urbanos. Os quilombos também surgem em todo o país. Essas manifestações são surpreendentes e por isso vistas como estranhas e falsas. Por quê? Porque aceitamos este princípio geral de que a nação é uma construção histórica e quando nos deparamos com identidades indígena ou quilombola não aceitamos. A idéia que tínhamos de um Brasil mestiço não pode ser utilizada para não enxergarmos fenômenos que escapam desta imagem”.
Também penso assim, o Brasil é uma nação de negros que pensavam que eram brancos e índios que se imaginavam europeus, mas a cada dia os descendentes, frutos das antigas misturas (na maioria das vezes forçadas), percebem a importância de cultuar a cultura de seus antepassados africanos e indígenas e não aceitam ser novamente forçados a serem irmãos. Com isso talvez consigamos a verdadeira nação brasileira, com africanos, índios e europeus que respeitam as tradições e culturas uns dos outros e dá oportunidades iguais a todos. Sobre esta igualdade é bom dizer que cada raça tem uma inteligência voltada para um aspecto definido das atividades humanas e o melhor aproveitamento das qualidades de uma pessoa é dar-lhe chance de ser aquilo que ele melhor pode fazer.

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