segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O dom das palavras


A palavra foi o começo de nosso caminhar, o jeito de juntar informações e passá-las adiante, aos outros. Quem lida com as palavras, as enfileira seguidinhas formando idéias, é uma pessoa especial. Quem lê as palavras, compreende o pensamento contido nelas, também ajunta por formar novas noções sobre a vida dos homens. Mas quem inventa palavras é um rei, um mestre. Reli Sagarana, um livro de contos de João Guimarães Rosa e a cada página fiquei maravilhado com seu dom de inventar palavras. No conto O Burrinho Pedrêz ele descreve um curral atochado de bois e nos faz ver o reboliço de animais apertados: “Alta, sobre a cordilheira de cacundas sinuosas, oscilava a mastreação de chifres. E comprimiam-se os flancos dos mestiços de todas as meias-raças plebéias dos campos-gerais com as cores mais achadas e impossíveis: pretos, fuscos, retintos, gateados, baios, vermelhos, rosilhos, barrosos, alaranjados, castanhos tirando a rubros, pitangas com longes pretos, listados, versicolores, turinos, marchetados, tartarugas variegados, araçás, zebruras pardossujas em fundo verdacento, ágata acebolada, nós de madeira e granito impuro”.
Me diga onde ele arranjou estes nomes para as cores do gado bovino encurralado. Por isso, quando criticando alguém questionar uma palavra que você usou: esta palavra não existe!, responda petulante: Fiz ela agorinha mesmo, fresquinha. E pronto.

Nenhum comentário: