sábado, 31 de janeiro de 2009

Crimes Bárbaros


Quando o noticiário mostra crimes bárbaros como o do menino João Pedro, da menina Izabella ou da jovem Eloá, sem compreender o que leva um ser humano a cometer uma tal selvageria, definimos como monstros os autores. Mas o que transforma uma pessoa num bicho irracional? O que produz uma tragédia?
O alemão Friedrich Hölderlin (1770-1843), poeta e filósofo alemão, pesquisador da mitologia grega, estudou a estrutura e o ritmo das tragédias no teatro grego e nos deu pistas sobre as ações brutais e sem explicação. Os gregos percebiam que a criatura humana na sua finitude procura um contato direto com o absoluto, Deus. Isto, mesmo não sendo consciente, mesmo que ele negue. A vida da gente costuma ser sem muitos altos e baixos, com uma tensão mediana e sem muitos sustos. Mas quando o sujeito toma consciência de sua força, quase divina, e não aceita o que a vida lhe impõe isto gera uma tensão que o leva à atitudes desmedidas. “A existência trágica ignora seus limites humanos e se alça à condição divina”. Assim, quando o indivíduo acha impossível resolver um problema da vida com um comportamento pautado pelos costumes ele toma nas mãos as leis dos homens como se fosse um deus. A antropóloga Analba Teixeira falando sobre o caso da moça Eloá questiona: “Qual o perfil de Linderberg? Bom rapaz, trabalhador, amigo de todos, ‘era apenas um pouco ciumento’. E se chegou a este extremo é porque possui alguma patologia. Como reconhecemos as características desta patologia que uma pessoa carrega para cometer um crime como esse? Ou ele não agüentou perder o controle que queria ter da vida de Eloá? Ou sentiu a sua ‘honra maculada’ porque Eloá não queria continuar o namoro que ele próprio terminara?” Não consegue chegar a um consenso.
Hölderlin estudando a mitologia de Édipo que coabitou com a mãe e assassinou o pai descobre duas explicações para estes comportamentos que levam a tragédia: uma do escritor Ésquilo que o vê ultrapassando conscientemente o limite divino para os homens e outra de Sófocles que entende ter o herói ultrapassado o limite porque este se furtou a sua percepção e avançou no terreno pedregoso e infernal além do humano. “Neste momento o homem esquece de si e de deus e se afasta, certamente de modo sagrado”.
As bestas feras que cometem tais brutalidades assistem-nas como estivessem de fora, como se fossem deuses com poder de vida e morte sobre os humanos, e ao mesmo tempo se sente alheio ao que faz como homem. De qualquer forma precisam de um castigo bem grande que jogando-o num abismo bem fundo o faça procurar Deus como um suplicante ou que o faça "aprender a suportar a falta de Deus".

De qualquer forma os crimes hediondos têm a ver com o divino e sua falta na vida humana.

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