sábado, 1 de setembro de 2007

O subprime e as vantagens indevidas


Lendo a comentarista de Economia de O Globo, Míriam Leitão, falando a respeito da crise financeira da moda, os financiamentos imobiliários nos EUA, o subpirme, me veio a vontade de escrever sobre uma norma que tem norteado minha vida, às vezes.
A Contabilidade, ciência exata baseada na Matemática, fez milagres na Economia que, dizem alguns entendidos, deixaram as próximas gerações numa corda bamba.
Na antiguidade os ativos eram bens físicos que qualquer humano conseguia produzir ou criar: saco de milho, vasilha, carneiro, arado, cavalo, vestimenta, etc.
No sistema de escambo ia o carneiro vinha uma mesa, o fazendeiro fazia uma troca com o marceneiro e cada um continuava com o mesmo número de ativos.
Mas quando o fazendeiro precisava de uma roupa e o trigo só seria colhido dentro de alguns meses e ele conseguia um crédito com o costureiro, vinha túnica e o saco de trigo ficava prometido. Os ativos continuavam iguais até que um artesão mais sabido descobriu outro ativo, o juro. O trigo sendo entregue depois a roupa custava 10% mais. O tempo de espera era um outro bem.
Quando os senhores feudais criaram as moedas a economia deu um salto, duplicou. Eles precisavam pagar por outro ativo, o serviço, o trabalho despendido por um soldado, por um carpinteiro, um cavalariço ou outro qualquer profissional. O dinheiro do fidalgo era bem recebido porque tinha respaldo: suas terras, seus castelos e até seu título. Ativos físicos e de honra.
O trabalho, a arte, aptidão agora valia bens, eram ativos abstratos que geravam ativos físicos.
Depois surgiu o sistema bancário e a economia deu outro salto, multiplicaram-se os ativos. O granjeiro vendia alguns patos e botava o dinheiro no banco. Ele tinha esse ativo lá guardado para a hora que precisasse. Mas o banqueiro pegava seu dinheiro e emprestava ao artesão de couro para comprar material para os trabalhos que ia confeccionar. O mesmo virava um outro ativo. A economia dobrou de tamanho. O ser humano prosperava.
Mas, às vezes, o crédito ou o próprio dinheiro falhavam. A safra fracassava e não tinha trigo para entregar, ou o senhor feudal era derrotado e um rival assumia toda sua herança e não honrava o valor das moedas cunhadas pelo senhor anterior, ou o artesão de couro pagava e não recebia sua mercadoria ou era roubado. Muitos ativos viravam pó.
Surgiram em boa hora as companhias de seguro. O proprietário de um ativo pagava um dízimo mensal para protegê-lo e o bem estava segurado: a safra a ser colhida, o rebanho, o estoque de mercadoria e até o dinheiro no banco.
A humanidade juntava bens tangíveis e imateriais que lhe davam mais conforto durante a vida ativa e até um repouso na velhice.
Mas sempre que nestes negócios não se jogava limpo, com transparência como se diz agora, os bens ficavam sem nenhuma segurança, porque a honra e a justiça ainda são os maiores valores, mesmo que no desenrolar da vida não pareça.
É o que a Mirian comentava sobre os empréstimos subprime, com juros mais caros. O que encarecia o empréstimo era a falta de garantias dos tomadores: imigrantes ilegais que não trabalham com carteira assinada ou famílias que não tinham um rendimento compatível com as normas bancárias. E aceitavam os juros mais altos porque não tinham os meios que as outras famílias possuíam. Se alguma coisa desandava, sem garantias, só restava às financeiras tomar o imóvel e revendê-lo. Mas como o juro era alto, a venda do imóvel não cobria o débito e – coisa rara – sobrava para o banqueiro à perda de ativos.
Não é bem assim, como tudo neste mundo está interligado – e não estamos falando de física quântica – o banqueiro tinha repassado o valor do financiamento para um banco que queria trocar seu dinheiro por um ativo que rendesse um juro melhor e quando o comprador do imóvel não pagava e a casa era revendida por um valor menor, os depósitos bancários sumiam. Não some o dinheiro sagrado do banqueiro, mas o suado depósito que a costureira e o pedreiro colocaram lá. O subprime promete arrancar os ativos de muita gente.
Assim, temos de ficar atentos aos caminhos do nosso dinheirinho. Todo cuidado é pouco. A aventura é um perigo, a cobiça continua merecendo punição. Ou como dizia o poeta: “São demais os perigos desta vida”; ou segundo o sabido colunista social Ibrahim Sued avisava: “Olho vivo que cavalo não sobe escada”.

Nenhum comentário: