sexta-feira, 13 de abril de 2007


JEAN BAUDRILLARD 1929-2007 Sociólogo e filósofo francês que foi marcado por seus colegas como um niilista por uns e como o “pai do pensamento moderno” por outros, em mais de uma centena de livros foi um crítico feroz da cultura de consumo. Quando vamos ao shopping de uma metrópole, faiscante em centenas de lojas exibindo tudo o que a inventividade humana conseguiu produzir, às vezes nos pegamos pensando se aquilo é a vida real, a função maior do ser humano, ou é apenas um mundo virtual, como no filme Matrix que se inspirou no livro de Simulacros e Simulações, de Baudrillard.
O filósofo considerava a todos nós como cúmplices da situação em que vivemos, desta hiper-realidade que ele chama de “assassinato do real em que a clonagem de cultura e idéias pode configurar o fim de um dos traços fundamentais do homem: a morte”. Ele entendia que o espetáculo feérico mostrado pela mídia, igual a um carrossel enlouquecido, tira de nós a oportunidade de pensar e buscar mudanças para o mundo “neutralizando e anulado uns aos outros pelo excesso e pelo vazio de sentido”. Sua descrença completa, a negação veemente de valores aproveitáveis na sociedade humana, não era pregação de uma atitude de impotência, mas a celebração catastrófica de que precisamos mudar o rumo da humanidade. “O social funciona sobre a base da disfunção do acidente, do catastrófico e do irreal”.
Talvez por isso Baudrillard sentia um grande fascínio pelo mal, ainda que para entender sua força e melhor combatê-la. “Não se trata de ser contra a erradicação do mal. É preciso abandonar o idealismo”. Não acreditava nas visões de um mundo utópico nem na fé dos religiosos de que um dia a Terra será dos mansos e pacíficos: “Não existe este ponto ideal e perfeito, esse ponto de chegada para a história. Não há o bem sem o mal. Um está ao lado do outro. As coisas são reversíveis: são boas e se tornam más ou são más e se tornam boas”. Sua maneira arguta de ver o ser humano na história lhe dizia que existem forças naturais e sociais indomáveis: “Quero dizer que as coisas que são reprimidas não desaparecem, mas ressurgem adiante com maior força, tornando-se incontroláveis. Pensar a sociedade contemporânea consiste em pensar a produção do mal como uma energia incontrolável”. Assim, aquietemo-nos. Se houve um Nero que empalava os inocentes, um Átila que destroçava tudo que se interpunha às suas hordas, um Hitler que jogou milhões em fornos crematórios e um George W. Bush que acha mais importante que o imperialismo ianque continue faturando e o mundo que se exploda, ainda haverá muitos outros antiCristos.
Por tudo isto é que o mundo consegue inverter belos princípios e continuar matando milhões de humanos, irmãos da nossa espécie, de fome e doenças. Veja só: O ponto fraco do gigante norte-americano é seu desequilíbrio crônico das contas externas, sempre gasta muito mais do que fatura. E olha que vende horrores! No ano passado os EUA gastou quase 1 trilhão de dólares a mais do que produziu. Sabe quem financiou este estouro de caixa? Os países em desenvolvimento. A China conseguiu um superávit de 7% que aplicou em grande parte em papéis norte-americanos. E nós que já temos US$100 bilhões ‘malocados’ como reservas estratégicas! Gente, quanto esforço, suor e lágrimas, aplicados em bom papel impresso pelo Banco Central de GW Bush! Marx errou demais ao teorizar que o Capital devia fluir das economias desenvolvidas, dotadas de imensa capacidade de poupar e que já teriam explorado grande parte das suas oportunidades de investimento, para as economias em desenvolvimento. É, afinal, mais um fruto do nefasto mal que é inerente a raça humana.
O Globo, 10/03/2007, Opinião e Prosa&Verso

Um comentário:

Rodrigo disse...

Ótimo texto Adal! Sou fã desse cara